Moçambique on-line

Notícias do dia 29 de Dezembro 2001

Pela terceira vez:
Adiado julgamento do caso Nyimpine vs. Mosse

O julgamento do jornalista Marcelo Mosse e do jornal metical, no caso de "difamação" levantado por Nyimpine Chissano, filho do Presidente da República, foi ontem mais uma vez adiado, por ordens do tribunal. O motivo do adiamento deste vez não são as "questões prévias" levantadas pela defesa, mas o facto de não se terem cumprido os prazos de notificação. Enquanto a lei prescreve um prazo de cinco dias, Mosse e o metical foram avisados apenas no dia 26 de que teriam que comparecer no tribunal no dia 28. A notificação foi uma surpresa, uma vez que a advogada da defesa, Lucinda Cruz, tinha informado o juiz explicitamente que estaria de férias. Cruz foi obrigada a interromper as suas férias e viajar de Vilanculos para Maputo.

Na sessão de ontem somente se discutiu a questão dos prazos de notificação, com o advogado de Nyimpine, António Balate, a argumentar que, mesmo que reconhecesse o incumprimento dos prazos, o julgamento podia começar de qualquer maneira, uma vez que todos estavam presentes. Após mais de uma hora de debates o juiz, Wilson Dambo, decidiu marcar o julgamento para 21 de Janeiro de 2002.

Não está muito claro o que ditou a "pressa" da acusação, mas talvez tenha sido o receio de que, com o encerramento do jornal metical, o caso fique juridicamente mais complicado. Mas na realidade os donos da empresa continuam responsáveis, mesmo depois do encerramento da empresa no final de 2001. Os actuais donos do metical são os herdeiros de Carlos Cardoso, os seus filhos Ibo and Milena, de 12 e 6 anos, respectivamente. Outro motivo pode ser que o caso já começa a atrair a atenção de algumas organizações internacionais. O facto de o filho do Presidente processar um jornalista crítico pode ser considerado uma intimidação dos jornalistas independentes e como tal o caso representa uma ameaça para a liberdade de imprensa, consideram estas organizações. (AIM 28/12/01, MOL)

Leia mais sobre o caso Nyimpine vs. Mosse:
18 de Dezembro: Caso Nyimpine contra Mosse adiado pela segunda vez
27 de Novembro: Caso Nyimpine contra Metical adiado sine die
10 de Novembro: Nyimpine Chissano processa Marcelo Mosse

 

Fechou o jornal "metical"

Ontem, dia 28 de Dezembro, saiu o último número do jornal metical, fundado por Carlos Cardoso, assassinado em Novembro do ano passado. O jornal fechou porque a viúva de Cardoso decidiu encerrar a empresa que Carlos Cardoso criou em 1997 e da qual ele era o único proprietário. Após a sua morte, os seus dois filhos, na altura com cinco e onze anos de idade, tornaram-se proprietários da empresa e legal e financeiramente responsáveis pelo jornal. Quando Nyimpine Chissano, filho de Presidente da República, processou o jornal judicialmente, ficou claro o que esta responbilidade podia implicar.

"Foi um choque para a família verificar que os dois filhos de Carlos Cardoso e um dos seus principais colaboradores seriam os primeiros a sentarem-se no banco dos réus. Esta injustiça é grotesca. Primeiro Milena, agora com 6 anos, e Ibo, com 12, perdem o pai, abatido por uma gang terrorista. Agora são chamados a comparecer como réus no tribunal, antes dos assassinos do seu próprio pai. E depois disso correm também o risco de vir a perder a herança. O nosso pesadelo é maior cada dia que passa", escreve a viúva de Cardoso, Nina Berg, na última edição do jornal.

O período a seguir à morte de Cardoso foi muito conturbado para o metical. Quando Nyimpine, em finais de Março, ameaçou processar o jornal, Marcelo Mosse desempenhava na prática o papel de editor. Na segunda metade do ano, o jornal anunciou a nomeação de Maria de Lourdes Torcato como directora, mas não explicou aos seus leitores que se tratava de facto de uma substituição do editor. O que não agradou aos jornalistas foi o facto de a directora auferir um salário indexado ao dólar e cinco vezes maior que o dos jornalistas - contra a política salarial do próprio Cardoso.

Num artigo publicado na última edição do jornal, os trabalhadores deixam claro que não concordam com o encerramento da empresa, nem com o valor das indemnizações que vão receber. A alternativa que lhes foi apresentada pela família de Cardoso, de comprarem a empresa por um valor de 119 mil dólares, não consideram realista. Alguns trabalhadores do metical pretendem abrir um novo jornal, a ser chamado vertical, nome que já registaram no Gabinete de Informação. A família pretende pôr a empresa à venda no princípio do ano que vem. (metical e AIM 28/12/01)

Leia este artigo de 9 de Novembro sobre o encerramento do metical:
Sobrevivência do jornal "metical" em causa
e ainda o artigo de Fernando Lima em O Público de 10 de Novembro:
Crise e pressões dobre jornal moçambicano "Metical"

 

Notícias de ontem (28 de Dezembro):

UE apoia Orçamento Geral do Estado com 40 milhões de euros
Electrificação rural poderá ser concluída em 2003
Gaza recebe cinco ambulâncias do UNICEF
"Caso Mambinhas": Ministro dos Desportos levanta castigo à Federação


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