Moçambique on-line


Expresso de 17 de Março 2001

Os filhos rebeldes do Senhor Presidente
Por MARCELO MOSSE, correspondente em Maputo

Os filhos de Joaquim Chissano tornaram-se conhecidos em Moçambique pelos seus negócios obscuros, os desacatos e a arrogância com que se comportam

OS FILHOS do Presidente Joaquim Chissano são muito famosos em Moçambique. Há já vários anos que os dois jovens - Nhimpine, de 31 anos, e Naite, de 29 - chamam a atenção da sociedade por causa das suas atitudes violentas, enriquecimento rápido e alegado envolvimento em negócios obscuros.

Com a detenção de Nhimpine, supostamente por posse de cocaína, na África do Sul, noticiada na semana passada pela imprensa deste país, essa fama ultrapassou as fronteiras de Moçambique.

Nhimpine ChissanoO casal presidencial tem quatro filhos - dois rapazes e duas raparigas. Nhimpine Chissano, o mais velho, nasceu ainda a Frelimo lutava contra o colonialismo português. Por isso, o seu nome significa em changana, a língua da etnia do Presidente, "na guerra". Fontes da Ponta Vermelha, o palácio presidencial de Maputo, admitem que Chissano está "desiludido" com os filhos. A sua "má fama", em particular a de Nhimpine, terá começado há cerca de cinco anos, depois de o rapaz ter regressado dos Estados Unidos, onde se diz que cursou Business e iniciou um processo de enriquecimento rápido a coberto do estatuto do pai.
 

Negócios em profusão

Hoje, Nhimpine está metido em muitos negócios. Um deles, por exemplo, é o exclusivo do fornecimento de viaturas para as conferências internacionais que se realizam em Maputo - um negócio que vive da importação temporária de Mercedes de luxo da vizinha África do Sul. Outro é a importação de bebidas alcoólicas, o que, segundo se diz, nem sempre é feito da maneira mais legal...

Jornais moçambicanos já denunciaram o facto de o filho do Presidente usar o poder do pai para fazer singrar os seus negócios. Mas Nhimpine deve também a sua fama aos desacatos que provoca e à arrogância de que dá mostras.Recentemente, o jornal "Metical" contou um episódio ocorrido a propósito de um acidente de viação com um dos seus carros, cujo condutor foi levado à Polícia. Informado sobre o facto, Nhimpine irrompeu na esquadra, insultando os agentes e atirando coisas ao chão. Segundo o jornal, o comandante da esquadra protegeu Nhimpine, acusando os guardas que detiveram o motorista de "excesso de zelo".

O falecido editor do "Metical", Carlos Cardoso, assassinado em Novembro por investigar, entre outras coisas, os crimes económicos em Moçambique, tinha dado instruções aos jornalistas para não voltarem a ouvir Nhimpine sempre que chegassem à redacção queixas sobre os seus negócios sujos. De cada vez que os repórteres do jornal contactavam Nhimpine, este reagia violentamente, insultava e ameaçava.

Mas também Naite Chissano, o filho mais novo, parece estar a enveredar pelos caminhos do irmão. Em Novembro de 2000, depois de um ladrão ter roubado o emblema do seu Mercedes à porta de uma famosa discoteca de Maputo, Naite sacou da sua pistola e pôs-se a ameaçar de morte os guardas da discoteca. "Ele apontou-nos uma pistola. Encostou a pistola à cabeça de um meu colega e insultou-nos sem parar. Chamou-nos incompetentes e filhos da puta", contou um dos guardas ao EXPRESSO.

Histórias como esta levam muitos moçambicanos a interrogar-se por que razão Chissano permite que os filhos se comportem assim. Uma fonte da Ponta Vermelha comentou ao nosso jornal que o Presidente não gosta disto e que entre ele e Nhimpine até já se gerou um ambiente de animosidade.

O EXPRESSO apurou que Nhimpine age agora sób a protecção da mãe, que também se embrenhou no mundo dos negócios. É que ela tem um certo poder sobre o pai, já que a guarda de elite de Chissano é comandada por homens makondes, a etnia de Marcelina.
 



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