Moçambique on-line

mediaFAX de 21 de Novembro 2002

1. Nini faz confissão parcial
2. Menção a Marcelina Chissano
3. Nini, Nhympine e os cheques
4. Anibalzinho pode fazer revelações
5. Anibalzinho podia ir para Portugal, mas...
6. SNJ: Sancionamento exemplar
7. SEMANA DE CARLOS CARDOSO

Caso Carlos Cardoso
Nini faz confissão parcial

Momad Assif envolveu Nyimpine e Marcelina Chissano e vai tentar provar com cheques alegadamente passados pelo filho do PR

(Maputo) A grande novidade da sessão de julgamento de ontem foi uma "confissão tácita" do arguido Momad Assif em relação a sua participação nos pagamentos a Anibalzinho pelo assassinato do jornalista Carlos Cardoso. Nini, como é mais conhecido este réu, confirmou que fez quatro pagamentos ao co-réu agora em fuga. Ficou assim estabelecido de uma vez por todas que Nini fez pagamentos relacionados com o crime, embora ele não tenha dito que sabia previamente que os tais pagamentos tinham a ver com o assassinato de CC.

A única coisa que ele disse foi que quem lhe deu ordens para efectuar tais pagamentos foi o filho mais velho do Presidente Chissano, Nhympine. "Ele deu-me instruções para fazer alguns pagamentos ao Anibalzinho". Nini disse ter feito quatro pagamentos, dois em Maputo, nos valores de 400 mil contos e 150 mil contos, e dois na África do Sul nos valores de 150 mil randes e 100 mil randes. Os pagamentos na África do Sul foram feitos por via de transferência bancária. Os pagamentos em Maputo foram feitos junto de uma agência bancária e tiveram lugar entre Novembro e Dezembro do ano 2000, pouco depois do assassinato do editor do Metical. "Recebi instruções para fazer os pagamentos ao Anibalzinho", disse o réu.

Mas quem o instruiu?, perguntou o juiz. "Foi o Nhympine Chissano. Ele veio ter comigo a dizer que precisava de dinheiro. E deixou alguns cheques comigo. Isto foi em Novembro de 2000. Nhympine pediu-me acima de 1 bilhão de Meticais, mais concretamente 1 200 milhões. Ele disse-me que precisava de pagar alguém, que esse alguém era o Anibalzinho. E depois ligou-me o Anibalzinho a dizer que queria receber o dinheiro".

Nini colocou muito acento tónico na alegação de que "eu só me limitei a pagar". O réu explicou ainda que conheceu Nhympine Chissano através de uma amiga deste, que lhe teria apresentado ao filho do PR entre finais de 1999 e princípios de 2000. O nome dessa amiga de Nhympine não foi revelado no Tribunal porque o juiz o impediu, aceitando um requerimento do advogado de defesa, Eduardo Jorge. Mas o mediaFAX sabe que essa amiga dá pelo nome de Cândida Cossa.

O depoimento de Nini parece ter sido encarado como um passo importante para a clarificação da identidade dos autores morais. Nini, como já se sabe, é não só acusado de autoria material como de autoria moral. Anteontem, o arguido Escurinho tinha feito uma espécie de desincriminação de Nini relativamente à acusação de autoria material, contrariando os detalhes das acusações pública e particular a esse respeito. Mas Escurinho já tinha avançado algumas nuances que indicavam a participação de Nini no pagamento do crime a Anibalzinho. Ontem, foi o próprio Nini quem confessou ter feito os pagamentos. Hoje o Tribunal vai tentar clarificar a questão dos pagamentos, nomeadamente tentando compreender até que ponto é que o réu está a dizer a verdade no que a isso diz respeito.

Nini foi também interrogado sobre as suas relações com duas testemunhas importantes da acusação, nomeadamente Dudu e Rohit Kumar, consideradas pedras basilares de incriminação dos três alegados autores morais em julgamento (Ayob Satar e Vicente Ramaya, para além de Nini).

No que diz respeito a estas duas testemunhas, Nini disse que Dudu era seu conhecido, assim como Rohit, mas que não tinha relações de amizade com ambos. Afirmou que Rohit já esteve na Unicâmbios por "umas cinco vezes, mas a acompanhar o meu amigo Chabir". Desmentiu a alegação de que ele (Nini) e Ayob solicitaram a Rohit que encontrasse alguém para assassinar Carlos Cardoso. (É isto o que dizem as duas acusações).

Nini também disse nunca ter tido reuniões no Hotel Rovuma e que as vezes que para lá se dirigiu era unicamente para se encontrar com a namorada, num dos quartos. Hoje, para além do interrogatório a Nini, serão provavelmente interrogados outros dois réus, nomeadamente Vicente Ramaya, acusado de autoria moral, e Carlitos Rachid, que foi o autor dos disparos que roubaram a vida ao jornalista.
(M.M.)

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Menção a Marcelina Chissano

(Maputo) Ontem, o Tribunal que julga o caso revelou que ao longo do inquérito à fuga de Anibalzinho, ocorrida no passado mês de Setembro, o réu Nini indicou que os principais mandantes do assassinato do jornalista Carlos Cardoso eram Nhympine e a primeira dama da República de Moçambique, Marcelina Chissano. Essas declarações foram registadas e assinadas pelo próprio réu, num inquérito levado a cabo por Zacarias Cossa, Comandante Nacional da Polícia de Intervenção Rápida.

A menção a Nhyimpine tem como fundamento os cheques já referidos. Mas a menção a Marcelina não foi devidamente explicada por Nini nesse inquérito, ocasião em que ele também se referira a outros alegados mandantes do assassinato do jornalista, nomeadamente os antigos procuradores e o ex-PCA do Banco Austral, Octávio Muthemba. Ontem, Nini tentou explicar que as referências aos ex-procuradores e a Octávio Muthemba "eram em jeito de rumores aqui na BO".

Amanhã, o tribunal vai continuar a interrogar este réu, basicamente para tentar perceber se o envolvimento de figuras como Marcelina e o seu filho têm fundamento ou se, por outra, trata-se apenas de um acto de desespero... O juiz mostrou-se ontem preocupado com o facto de Nini ter mencionado no processo o nome da Primeira Dama sem ter apresentado, pelo menos até ontem, indícios suficientes de que ela possa estar envolvida.
(MM)

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Nini, Nhympine e os cheques

(Maputo) A sessão de hoje do julgamento do caso Carlos Cardoso vai ser animada pela continuação do interrogatório ao réu Nini. Ontem, o juiz Paulino asseverou por diversas vezes que o conteúdo do depoimento de Nini estava com várias zonas de penumbra. O interrogatório de ontem não foi concluído porque já era tarde. Uma das questões centrais tem a ver com os pagamentos que Nini diz ter feito a Anibalzinho. Nini diz que fez os pagamentos a Anibalzinho por instruções de Nhympine. Esta revelação já era esperada pelo menos nos círculos que lidam directamente com o processo e que já conheciam o conteúdo do relatório de inquérito à fuga de Anibalzinho e no qual Nini fez promessas de provar a sua inocência através da incriminação de Nhympine.

Ontem, o juiz, depois de o réu enfatizar o envolvimento do nome de Nhympine, quis saber que provas é que ele tinha. Nini disse que eram os cheques que Nhympine lhe passara. Na sua explicação, os cheques foram passados por Nhympine como garantia de pagamento. Ou seja, Nini avançava os valores a Anibalzinho e Nhympine passava cheques datados como prova de que reembolsaria tais valores posteriormente.

O réu, quando questionado sobre os cheques, prometeu que a qualquer momento os traria ao processo. Assim aconteceu. Uma parente sua que estava a assistir ao julgamento fez chegar ao Tribunal um envelope contendo os cheques. O Tribunal recebeu-os e foram arrolados como prova. Nini hoje usará os cheques como estratégia para clamar a sua inocência. Mas a questão que se coloca em muitos círculos é até que ponto é que os cheques provam a natureza da transacção a que dizem respeito. Os pareceres que temos recolhido mostram que será difícil a Nini provar que os cheques passados por Nhympine tinham a ver com o assassinato de CC. A não ser que ele tenha outros trunfos.

Por outras palavras, o facto de Nhympine ter passado cheques não explica por si só que eles se destinavam a pagar o assassinato de CC. Este é pelo menos o parecer que obtivemos de fonte de opinião não interessada no processo. Um dos cheques foi publicado na última edição do jornal SAVANA. Este tinha como data de emissão o dia 23 de Novembro de 2000, um dia depois do assassinato de CC.

Resta saber de que data são os restantes cheques apresentados ontem ao Tribunal. Se forem anteriores a 22 de Novembro, então o argumento de Nini segundo o qual desconhecia a natureza dos pagamentos a Anibalzinho pode ficar fragilizado.
(MM)

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Através de uma carta ou fita magnética
Anibalzinho pode fazer revelações

(Maputo) O réu Anibalzinho poderá fazer algumas revelações ao longo do presente julgamento, clarificando de uma vez por todas a identidade dos autores materiais do crime. De acordo com fontes do mediaFAX, Anibalzinho já deve ter enviado uma carta a pessoas das suas relações que assistem ao julgamento. Essa alegada carta está ainda no segredo dos deuses e não se sabe em que circunstâncias do processo interessaria a sua divulgação.

Nos corredores da BO quem se tem destacado é a sua mãe Terezinha. A senhora apresenta um ar carregado de pranto, uma mistura de ansiedade e revolta. Este semblante emergiu anteontem aquando do depoimento de Escurinho e recrudesceu ontem quando Nini começou a falar na família Chissano. "É tudo mentira, essa gente está a mentir, não têm vergonha de envolver outras pessoas", declarava ela, afiançando que o seu filho "foi envolvido nisto" e acusando que "quem tirou o Anibalzinho da BO foram os irmãos Satar".
(M.M.)

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Anibalzinho podia ir para Portugal, mas...

(Maputo) O réu Anibalzinho, que foi alvo de atenção ontem no Tribunal através da leitura de algumas peças dos autos a seu respeito, podia partir de onde está para Portugal, se as autoridades portuguesas garantissem que ele não fosse detido. Isto foi confirmado ao mediaFAX, ontem, pela sua mãe, Terezinha Mendonça, que segue o curso do julgamento. Terezinha contou que, aquando da presença recente em Maputo de Martins da Cruz (Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal), ela tentou um encontro com o chefe da diplomacia lusa, com o objectivo de saber o que é que aconteceria se Anibalzinho fosse para Portugal.

Martins da Cruz não a recebeu mas mandatou um diplomata que trabalha em Maputo para conversar com ela. "Ele (o diplomata) disse-me que se o Anibalzinho fosse para Portugal poderia ser detido dado que está a correr em Moçambique este processo. O que ele garantiu é que o Anibalzinho não seria extraditado porque tem nacionalidade portuguesa".

Este facto revela que Dona Teresinha sabe onde está Anibalzinho e, eventualmente, tenha contacto com ele. A presença de Anibalzinho no julgamento é agora imperativa dado que Escurinho e Nini atiram todas as responsabilidades para ele. Até seria importante para o próprio Anibalzinho uma vez que está a ser julgado à revelia. Ontem foram lidas algumas peças dos autos de instrução preparatória e contraditória relacionadas à sua pessoa. Também foram lidas algumas peças de prova e indicativas das suas actividades ilícitas ligadas ao roubo de viaturas, etc. Numa declaração junta ao processo, Anibalzinho considerou a sua detenção e incriminação no assassinato de CC como "um acto de chantagem".

Nas peças lidas, ele revela uma personalidade sinistra, pouco sociável, mas muito contraditória e ao mesmo tempo ambígua em relação às suas actividades. Nos interrogatórios, ele disse não conhecer os co-réus, o que, confrontado com as declarações de Nini e de Escurinho, é uma pura mentira. Se o critério de mentir fosse o único para o seu advogado optar pela renúncia do mandato, como fez com Escurinho, Simeão Cuamba já teria abandonado o banco dos réus.
(MM)

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A minha opinião: SNJ (*)
Sancionamento exemplar

Quando a 24 de Novembro de 2000 marchávamos pelas ruas com dísticos, cartazes e bandeiras da sede do SNJ até ao local do assassinato de Carlos Cardoso, o que estávamos a dizer era que não só nos não calaríamos como exigíamos justiça. Felizmente, passos estão a ser dados e esperamos o desfecho. Dissemos, então, que as armas não calam as vozes daqueles que com arrojo se batem contra a desonestidade, a corrupção e o crime organizado (...).

O julgamento dos indiciados da morte do Carlos Cardoso já começou. Aguardamos serenamente pelo desfecho e reiteramos que ele deve servir apenas à descoberta da verdade sobre este caso e ao sancionamento exemplar dos culpados. Empenhados em melhorar cada vez mais a nossa acção, assinalamos esta ocasião certos de que a nossa contribuição resultará, um dia, no esforço da liberdade de exercermos a profissão sem ameaças nem intimidações como o que recentemente se abateu sobre a MEDIACOOP, com frangos e ovos à mistura.

*Sindicato Nacional dos Jornalistas/Comunicado por ocasião do 2º Aniversário do Assassinato de Carlos Cardoso.

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SEMANA DE CARLOS CARDOSO
Pintura e escultura

(Maputo) Inaugura-se amanhã uma exposição de pintura e escultura por ocasião do segundo aniversário do assassinato do jornalista Carlos Cardoso, um evento que vai ter lugar na sede do SNJ (Sindicato Nacional de Jornalistas). Na cerimónia que vai contar com a presença de Nina Berg, Ibo e Milena Cardoso, viúva e filhos do malogrado, o chefe da delegação da Comissão Europeia em Moçambique, José Pinto Teixeira, vai lançar um concurso jornalístico denominado "Prémio Carlos Cardoso" aberto a jornalistas moçambicanos. O respectivo prémio, que vai resultar da selecção de artigos produzidos nos últimos dois anos sobre a promoção da democracia e os seus valores, será entregue em Fevereiro.
(da redacção)

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Moçambique on-line - 2002

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