(Maputo) O Secretário Geral da Renamo, João Alexandre,
entrevistado ontem pelo "mt" não confirmou nem desmentiu a
existência de um plano do seu partido no sentido de promover
actos de desobediência civil, mas deu a entender que a Renamo
não se importaria se isso acontecesse.
Ontem, o jornal "Notícias" dizia que um "plano de desobediência
civil" da autoria da Renamo tinha sido descoberto pelo governo e
cinco pessoas já estavam detidas na Beira, acusadas de
envolvimento. O "Notícias" citava um "alto funcionário
governamental", segundo o qual o plano inclue actos de violência
à escala nacional e desmandos mais intensos nas províncias onde
a Renamo ganhou as eleições em Dezembro passado.
"A Frelimo tem a consciência plena de que roubou os votos de
mais de três milhões de moçambicanos", disse Alexandre,
acrescentando que "ao roubar os votos, a Frelimo tornou-se
volúvel a qualquer situação da população. Não se deve preocupar
quando o legítimo dono dos votos reclama. A Frelimo não vai
silenciar o povo". Ele fez transparecer que se uma campanha de
desobediência acontecesse, ela seria justa, pois "o povo vive numa
grande aflição interna e a Frelimo não pode temer se um dia um
cidadão fôr à rua com um dístico perguntando pelos votos
roubados".
Mas distanciou-se de qualquer ligação à violência política. "A
Renamo nunca e jamais fará apelo à população para não exigir os
seus direitos. Até ao desfecho das negociações era a Renamo e o
seu Presidente que apelavam à população para se manter calma.
Quando falharam as negociações, a Renamo foi sincera e disse
que lavava as mãos para não se meter mais. Se a Frelimo se vê
acossada pela população não se pode queixar da Renamo", disse
Alexandre.
Ele convidou a imprensa a visitar as províncias do centro e norte
do país para "chegarem à conclusão de que em Moçambique não
há governo. Ninguém sabe quem manda. O governo não tem
autoridade, a população não aceita o seu poder". Segundo
Alexandre, "o facto de a Frelimo possuir a PIR e a PRM não
significa que vai silenciar o povo. O povo está numa grande
aflição interna. Sabemos que existem mecanismos legais em
Moçambique para qualquer cidadão seguir para reclamar os seus
direitos. A Frelimo não pode temer nada se um dia um cidadão for
à rua com um dístico para saber quem ganhou as eleições".
Intitulada "Jornadas Nacionais de Manifestações", a campanha
de desobediência, segundo a mesma "fonte governamental",
levaria à movimentação de algumas dezenas de "militares da
Renamo" e sua infiltração entre a população civil, de modo a
reagirem à qualquer intervenção violenta por parte da Polícia.
Recentemente, o presidente Joaquim Chissano nomeou para
novos governadores provinciais apenas membros do seu partido,
Frelimo, defraudando as expectativas da Renamo quanto à
indicação de figuras do seu seio para a governação das províncias
onde obteve maioria eleitoral. Esta era, aliás, uma das principais
batalhas assumidas de Afonso Dhlakama, no sentido de um
acordo de partilha de poder na sequência das suas alegações
sobre fraude eleitoral. A denúncia de ontem refere também que a
"desobediência civil" estava agendada para começar dentro de
dias, coincidindo com o regresso de Afonso Dhlakama dos
Estados Unidos da América. metical - arquivo 2000 |