Moçambique on-line


Artigo do metical de 15 de Agosto 2000


Renamo nega "plano de desobediência"

(Maputo) O Secretário Geral da Renamo, João Alexandre, entrevistado ontem pelo "mt" não confirmou nem desmentiu a existência de um plano do seu partido no sentido de promover actos de desobediência civil, mas deu a entender que a Renamo não se importaria se isso acontecesse.

Ontem, o jornal "Notícias" dizia que um "plano de desobediência civil" da autoria da Renamo tinha sido descoberto pelo governo e cinco pessoas já estavam detidas na Beira, acusadas de envolvimento. O "Notícias" citava um "alto funcionário governamental", segundo o qual o plano inclue actos de violência à escala nacional e desmandos mais intensos nas províncias onde a Renamo ganhou as eleições em Dezembro passado.

"A Frelimo tem a consciência plena de que roubou os votos de mais de três milhões de moçambicanos", disse Alexandre, acrescentando que "ao roubar os votos, a Frelimo tornou-se volúvel a qualquer situação da população. Não se deve preocupar quando o legítimo dono dos votos reclama. A Frelimo não vai silenciar o povo". Ele fez transparecer que se uma campanha de desobediência acontecesse, ela seria justa, pois "o povo vive numa grande aflição interna e a Frelimo não pode temer se um dia um cidadão fôr à rua com um dístico perguntando pelos votos roubados".

Mas distanciou-se de qualquer ligação à violência política. "A Renamo nunca e jamais fará apelo à população para não exigir os seus direitos. Até ao desfecho das negociações era a Renamo e o seu Presidente que apelavam à população para se manter calma. Quando falharam as negociações, a Renamo foi sincera e disse que lavava as mãos para não se meter mais. Se a Frelimo se vê acossada pela população não se pode queixar da Renamo", disse Alexandre.

Ele convidou a imprensa a visitar as províncias do centro e norte do país para "chegarem à conclusão de que em Moçambique não há governo. Ninguém sabe quem manda. O governo não tem autoridade, a população não aceita o seu poder". Segundo Alexandre, "o facto de a Frelimo possuir a PIR e a PRM não significa que vai silenciar o povo. O povo está numa grande aflição interna. Sabemos que existem mecanismos legais em Moçambique para qualquer cidadão seguir para reclamar os seus direitos. A Frelimo não pode temer nada se um dia um cidadão for à rua com um dístico para saber quem ganhou as eleições".

Intitulada "Jornadas Nacionais de Manifestações", a campanha de desobediência, segundo a mesma "fonte governamental", levaria à movimentação de algumas dezenas de "militares da Renamo" e sua infiltração entre a população civil, de modo a reagirem à qualquer intervenção violenta por parte da Polícia.

Recentemente, o presidente Joaquim Chissano nomeou para novos governadores provinciais apenas membros do seu partido, Frelimo, defraudando as expectativas da Renamo quanto à indicação de figuras do seu seio para a governação das províncias onde obteve maioria eleitoral. Esta era, aliás, uma das principais batalhas assumidas de Afonso Dhlakama, no sentido de um acordo de partilha de poder na sequência das suas alegações sobre fraude eleitoral. A denúncia de ontem refere também que a "desobediência civil" estava agendada para começar dentro de dias, coincidindo com o regresso de Afonso Dhlakama dos Estados Unidos da América.
(redacção)


metical - arquivo 2000


Moçambique on-line

Clique aqui voltar para voltar à página principal