Moçambique on-line


Artigo do metical de 23 de Agosto 2000


Director suspeita que há em Maputo uma gang especializada,
que inclue estrangeiros

Banco Austral mais uma vez assaltado
Insegurança nas ruas pode ter facilitado

(Maputo) O Banco Austral foi outra vez alvo de um roubo, agora por assalto à mão armada, na noite de segunda-feira. O assalto teve lugar na chamada “Tesouraria 2001”, localizada na Av. Fernão de Magalhães, na baixa de Maputo e, segundo a Polícia, os gatunos estão ainda a monte, não tendo deixado rastos.

A Polícia descreveu assim o roubo: pouco depois das 19 horas, três homens acercaram-se da entrada da Tesouraria e disseram a um dos guardas que queriam falar com um funcionário. Traziam umas caixas alegando que era dinheiro para depositar. O guarda dirigiu-se para o interior do banco e regressou com a autorização de que os homens podiam entrar. Aí, o guarda virou-se para abrir a porta, mas foi logo baleado mortalmente.

Os homens, armados com uma AKM, entraram e soltaram disparos continuadamente, ferindo outros dois guardas e instalando o medo entre os funcionários da dependência, que se atiraram para o chão para se protegerem. Os ladrões recolheram o dinheiro que conseguiram. A “Tesouraria” estava em processo de conferência. A Polícia falava ontem em terem sido retirados desse local cerca de 2,5 milhões de contos, mas o próprio banco, num contacto com o “mt” ontem à tarde, negou confirmar este valor pois “estamos ainda em processo de conferência. Não sei onde é que a Polícia foi buscar esses dados”, disse-nos Jaime Manhique, Director para a Área de Serviços.

A “Tesouraria 2001” não é propriamente uma dependência para pequenas operações, é “um prolongamento de dependência”, segundo Manhique, que serve para depositar valores acima de 2 mil contos e para recolha de valores ao domicílio de clientes que assim o queiram. Jacinto Cuna, porta-voz da PRM, disse-nos ontem que a Polícia continuava a fazer buscas para localizar os ladrões. Testemunhas contaram que os agentes da PRM só chegaram ao local uma hora depois da ocorrência.

Ontem, falando à RM, Cuna reconheceu este facto e acrescentou que a Polícia tinha, naquela noite, vasculhado a zona à procura dos ladrões. As únicas pistas que a corporação está agora a usar são as cápsulas das balas disparadas e as descrições dos funcionários e dos guardas sobreviventes. Cuna negou desenvolver a teoria da conivência de qualquer funcionário do banco, muito sugerida na opinião pública, mas Jaime Manhique disse que, embora não se tenha ainda dados detalhados sobre o assunto, essa “era uma hipótese a não excluir”. Manhique confirmou o relato da Polícia sobre a forma como o roubo se deu.

Embora o roubo à banca comercial tem sido generalizado, tanto através de fraudes com envolvimento de funcionários de dentro como através de roubos como o de segunda-feira, o Banco Austral é porventura o mais afectado, pelo menos se tomar-se em conta as fraudes e os assaltos mediatizados. Fontes do sector reconhecem haver ultimamente uma frequência de fraudes nos bancos, muitas das quais não chegam às redacções pois as instituições esmeram-se no segredo como forma de “preservar a sua imagem e não causar más expectativas no seio dos clientes”

Neste momento em que acaba de ser assaltado, o Banco Austral está a lidar com um caso “fresco” de burla alegadamente protagonizada por um funcionário e sobre a qual “já estão detidas várias pessoas”. Sobre este assunto, Manhique não revelou os valores em causa, dizendo apenas que o caso esta nas mãos da Polícia.

Perguntamos a esta fonte o que é que, na sua opinião, tinha facilitado o assalto. Ele disse que, provavelmente, as condições de segurança cada vez mais frágeis que a cidade vive tenham contribuído, lamentando o facto. E teorizou sobre a existência de uma gang na cidade, “especializada em assaltos a bancos e que inclue estrangeiros. Pela forma como os assaltos se dão, como o de Marracuene, pode-se concluir isso”. Manhique negou, no entanto, que o assalto de segunda-feira tenha sido feito com os métodos dessa alegada gang.

À tendência de os bancos esconderem os roubos de que são alvo, junta-se agora a seguinte evidência: um banco da praça escapou recentemente a uma burla de cerca de 3 milhões de contos; suspendeu mais de 10 trabalhadores durante as averiguações e, depois de apuradas as responsabilidades, acabou expulsando os implicados, não movendo qualquer acção judicial. Quanto à frequência de fraudes e assaltos, um dirigente do BSTM disse recentemente que Moçambique não era um caso especial, que as fraudes “acontecem em todo o mundo”.
(Marcelo Mosse e redacção)


metical - arquivo 2000


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