Moçambique on-line


Artigo do metical de 15 de Setembro 2000


Crescimento da economia abaixo de 2%

(Maputo) O governo acaba de finalizar a sua proposta de revisão do Plano Económico e Social (PES) que vai submeter ao parlamento dentro de dias e que, no essencial, altera drasticamente a previsão de crescimento do PIB para este ano, fixando-a, provavelmente, abaixo dos 2%.

Durante as cheias, o PR insistia que, apesar do desastre, ainda era razoável continuar a prever um crescimento da ordem dos 8%. Semanas depois, o governo disse à AR que previa um crescimento na casa dos 3.8%. Mas na documentação que o governo levou ao consultivo, em Junho, falava-se de 7 a 9% ao ano, no quinquénio, tendo o Banco Mundial apresentado uma taxa mais modesta (5 a 7%).

Na sua conferência de imprensa de ontem, o PM não quis especificar, mas esclareceu que as previsões do governo se situam agora abaixo dos 3.8%. "Poderá ser uns 2%, ou um pouco menos". Afinal, disse ele, "o impacto das cheias foi mais forte do que pensávamos".

Apesar disto, disse o PM, os objectivos do PES mantêm-se.

Quanto à inflacção, Mocumbi garantiu que há condições para mantê-la controlada "o mais baixo possível" até ao fim do ano. A uma pergunta do "mt", Mocumbi disse que a agricultura é o sector que mais contribuirá para a redução dos indicadores, mas os transportes também, não só o rodoviário interno mas o complexo do corredor da Beira.

No entanto, reconheceu que o decréscimo no tráfego ferro-portuário no corredor da Beira não está a ser compensado "pelo tráfego que já se começa a recuperar na linha de Nacala e na linha do Sul, entre Maputo e Ressano Garcia".

Mocumbi disse mesmo que a situação que relatou na semana passada sobre o corredor da Beira tinha piorado. "Já não temos comboios diários. Se na semana passada tínhamos 2 a 3 comboios por dia, esta semana tivemos dificuldades em encher uma formação de comboios de Harare para o porto da Beira".

Embora o que interesse a Moçambique seja mais o tráfego Harare-Beira que o Beira-Harare, este cenário está a registar-se nos dois sentidos, o que reflecte também uma redução das importações zimbabweanas.

O PM não quis detalhar a forma como os vários sectores da economia contribuiram para este acautelamento de último trimestre sobre o PIB, remetendo um aprofundamento para os debates na AR. Acrescentou que o país estava, no entanto, a registar algum crescimento, mas "não ao ritmo que esperávamos". Deu o exemplo do sector da construção como estando com muita vitalidade.

O "mt" perguntou-lhe porque é que o governo não abandonava definitivamente o seu discurso triunfalista quanto ao PIB e começava a falar em decréscimo. Mocumbi respondeu que os dados que o goverrno tem divulgado baseiam-se na avaliação daquilo que se passa na economia real. "Recebemos as afirmações dos diferentes sectores produtivos e as projecções são feitas com base nisso".

No que diz respeito à reconstrução pós-cheias, o PM anunciou que o governo já tem garantias de receber dos doadores 227 milhões USD para a recuperação do sector público, e 27.5 milhões para canalização ao sector privado. "Há documentos formalizados e os desembolsos estão a ser feitos". E acrescentou que isto representa um "progresso".

PETRÓLEO, CROWN AGENTS E AÇÚCAR
O governo crê que a crise no preço do petróleo a nível internacional não terá grandes impactos em Moçambique, se a OPEC aumentar, como prometeu, a produção, o que levará, segundo o PM, a uma redução do actual preço do barril de 35 para 27 USD já em Outubro. "Espero que isso influencie positivamente o preço dos combustíveis no nosso país. A nossa expectativa não é de alarme".

Num momento em que o governo está a preparar o novo programa com o FMI para os próximos três anos, perguntámos ao PM se o executivo estava, nessas conversações, a insistir na protecção da indústria do açúcar.

"Nós não estamos a discutir em termos de protecção. A nossa ênfase é fazer com que o país retome a produção do açúcar que foi interrompida pela destabilização. É um recurso que temos, e temos que valorizar este potencial. Se queremos o crescimento da economia moçambicana isso tem de ser feito na base dos recursos que o país tem. E que não nos imponham condições que nos impeçam de valorizar um recurso que temos e que pode ser útil para a nossa economia. Esta é a nossa posição, a de que temos que dar espaço para a indústria do açúcar se desenvolver".

A discussão do novo programa com o FMI, disse o PM, vai estar balizado pelas medidas e plano de actividades que o governo tem para os próximos anos, sugerindo que o executivo não está disposto a receber tantas imposições como no passado. "Se eles, e outros parceiros, tomarem em conta a vontade do governo de aplicar as suas próprias políticas, então o diálogo vai ser fácil".

O "mt" perguntou-lhe quanto é que o governo irá pagar à Crown Agents no novo contrato até 2003, e qual era a meta dada à firma britânica em termos de arrecadação de receitas.

Negando detalhar valores, e remetendo-nos para um contacto com o Tesouro, Mocumbi disse que o pagamento vai ser "na base do princípio de taxa de sucesso".

Qual é a percentagem?, insistimos.

"Não lhe quero dar. Contacte o Tesouro".

Acrescentou que não se tratava apenas de resultados financeiros mas também da capacitação da instituição. "Isto é o que nos interessa. Não estamos a promover uma política de colocação do sector privado estrangeiro para gerir a nossa alfândega".
(Marcelo Mosse)
 

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