(Maputo) O governo acaba de finalizar a sua proposta de revisão
do Plano Económico e Social (PES) que vai submeter ao
parlamento dentro de dias e que, no essencial, altera
drasticamente a previsão de crescimento do PIB para este ano,
fixando-a, provavelmente, abaixo dos 2%.
Durante as cheias, o PR insistia que, apesar do desastre, ainda
era razoável continuar a prever um crescimento da ordem dos
8%. Semanas depois, o governo disse à AR que previa um
crescimento na casa dos 3.8%. Mas na documentação que o
governo levou ao consultivo, em Junho, falava-se de 7 a 9% ao
ano, no quinquénio, tendo o Banco Mundial apresentado uma taxa
mais modesta (5 a 7%).
Na sua conferência de imprensa de ontem, o PM não quis
especificar, mas esclareceu que as previsões do governo se
situam agora abaixo dos 3.8%. "Poderá ser uns 2%, ou um pouco
menos". Afinal, disse ele, "o impacto das cheias foi mais forte do
que pensávamos".
Apesar disto, disse o PM, os objectivos do PES mantêm-se.
Quanto à inflacção, Mocumbi garantiu que há condições para
mantê-la controlada "o mais baixo possível" até ao fim do ano. A
uma pergunta do "mt", Mocumbi disse que a agricultura é o
sector que mais contribuirá para a redução dos indicadores, mas
os transportes também, não só o rodoviário interno mas o
complexo do corredor da Beira.
No entanto, reconheceu que o decréscimo no tráfego ferro-portuário no corredor da Beira não está a ser compensado "pelo
tráfego que já se começa a recuperar na linha de Nacala e na
linha do Sul, entre Maputo e Ressano Garcia".
Mocumbi disse mesmo que a situação que relatou na semana
passada sobre o corredor da Beira tinha piorado. "Já não temos
comboios diários. Se na semana passada tínhamos 2 a 3 comboios
por dia, esta semana tivemos dificuldades em encher uma
formação de comboios de Harare para o porto da Beira".
Embora o que interesse a Moçambique seja mais o tráfego
Harare-Beira que o Beira-Harare, este cenário está a registar-se
nos dois sentidos, o que reflecte também uma redução das
importações zimbabweanas.
O PM não quis detalhar a forma como os vários sectores da
economia contribuiram para este acautelamento de último
trimestre sobre o PIB, remetendo um aprofundamento para os
debates na AR. Acrescentou que o país estava, no entanto, a
registar algum crescimento, mas "não ao ritmo que
esperávamos". Deu o exemplo do sector da construção como
estando com muita vitalidade.
O "mt" perguntou-lhe porque é que o governo não abandonava
definitivamente o seu discurso triunfalista quanto ao PIB e
começava a falar em decréscimo. Mocumbi respondeu que os
dados que o goverrno tem divulgado baseiam-se na avaliação
daquilo que se passa na economia real. "Recebemos as
afirmações dos diferentes sectores produtivos e as projecções são
feitas com base nisso".
No que diz respeito à reconstrução pós-cheias, o PM anunciou
que o governo já tem garantias de receber dos doadores 227
milhões USD para a recuperação do sector público, e 27.5
milhões para canalização ao sector privado. "Há documentos
formalizados e os desembolsos estão a ser feitos". E acrescentou
que isto representa um "progresso".
PETRÓLEO, CROWN AGENTS E AÇÚCAR
Num momento em que o governo está a preparar o novo
programa com o FMI para os próximos três anos, perguntámos ao
PM se o executivo estava, nessas conversações, a insistir na
protecção da indústria do açúcar.
"Nós não estamos a discutir em termos de protecção. A nossa
ênfase é fazer com que o país retome a produção do açúcar que
foi interrompida pela destabilização. É um recurso que temos, e
temos que valorizar este potencial. Se queremos o crescimento da
economia moçambicana isso tem de ser feito na base dos
recursos que o país tem. E que não nos imponham condições que
nos impeçam de valorizar um recurso que temos e que pode ser
útil para a nossa economia. Esta é a nossa posição, a de que
temos que dar espaço para a indústria do açúcar se desenvolver".
A discussão do novo programa com o FMI, disse o PM, vai estar
balizado pelas medidas e plano de actividades que o governo tem
para os próximos anos, sugerindo que o executivo não está
disposto a receber tantas imposições como no passado. "Se eles,
e outros parceiros, tomarem em conta a vontade do governo de
aplicar as suas próprias políticas, então o diálogo vai ser fácil".
O "mt" perguntou-lhe quanto é que o governo irá pagar à Crown
Agents no novo contrato até 2003, e qual era a meta dada à firma
britânica em termos de arrecadação de receitas.
Negando detalhar valores, e remetendo-nos para um contacto
com o Tesouro, Mocumbi disse que o pagamento vai ser "na base
do princípio de taxa de sucesso".
Qual é a percentagem?, insistimos.
"Não lhe quero dar. Contacte o Tesouro".
Acrescentou que não se tratava apenas de resultados financeiros
mas também da capacitação da instituição. "Isto é o que nos
interessa. Não estamos a promover uma política de colocação do
sector privado estrangeiro para gerir a nossa alfândega".
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