Moçambique on-line


metical de 4 de Dezembro 200


Relatório e contas augura futuro melhor
BCM: o branqueamento da imagem

(Maputo) O relatório do BCM relativo ao exercício de 1999, publicado na última sexta-feira, confirma o enorme descalabro financeiro do maior banco moçambicano. Os números apresentados falam por si. Os prejuízos do exercício (1 987 milhões de contos) representam quatro vezes mais o capital social do BCM (526,5 milhões de contos).
Um analista da praça, confrontado com o relatório, não resistiu em traçar a seguinte imagem: estamos perante o terceiro acto de uma peça teatral chamada "Privatização das Instituições Financeiras". Mas o teatro, diz ele, é genuinamente real e consiste no assalto perpetrado por gangsters ao erário público, através da manipulação da maior instituição financeira do país. Este terceiro acto tem por característica dominante a entrada em cena de Jardim Gonçalves. Ele entra da seguinte forma, segundo o analista: "Ficas com o monopólio financeiro em Moçambique e em troca limpas e salvas o BCM".

A primeira fase, conta a fonte, consistiu no saque directo, quer pela utilização de fundos de crédito incobráveis, quer por fraudes. Desta fase estamos ainda a viver o roubo dos 144 bilhões de meticais.
A segunda fase foi aquela em que o Estado tentou encontrar um comprador do BCM que, a troco de favores especiais, desse cobertura a tudo o que estivesse sujo. Esse comprador foi o metalomecânico português, António Simões, o mesmo que comprou a Companhia Siderúrgica de Moçambique (CSM) com fundos emprestados pelo Tesouro a juros concessionais. (A CSM viria a funcionar, após a privatização, apenas alguns meses).
Esta fase teve algumas dificuldades quando António Simões se revelou incapaz de pôr dinheiro no BCM. Por isso, ele foi substituído. Agora, com a entrada de um poderoso parceiro, o BCP de Jardim Gonçalves, já é possivel normalizar-se a situação e passar-se à terceira fase: garantir que o BCM continue e ninguém fique beliscado! É isto o que o presente relatório pretende transmitir.
Talvez por isso é que o relatório e contas do exercício de 1999 do BCM, no qual se confirmam os conhecidos prejuízos de cerca de 124 milhões USD, diz a certo passo: " ... o Banco Comercial de Moçambique poderá continuar a encarar o futuro com confiança".
Apesar dessa confiança no futuro, o relatório do 1º semestre de 2000 apresenta prejuízos acumulados de 130 milhões de USD, pois os primeiros seis meses deste ano produziram um prejuízo da ordem dos 6 milhões de USD.

O relatório do BCM não faz em parte alguma qualquer referência à fraude de que o banco foi vítima durante o exercício de 1999 e muito menos referencia o impacto nas suas actividades. Com efeito, durante algumas semanas, particularmente entre Março e Julho de 1999, como consequência do desvio de dinheiro, o banco enfrentou problemas de tesouraria. Mesmo com a pronta reposição de 10 milhões de USD por parte do tesouro é inegável que as operações do BCM foram afectadas.
Os autores do presente relatório ignoram esse processo. E iniciam a sua prestação de contas considerando que "1999 constituíu um marco importante no aprofundamento do conhecimento da situação económico-financeira do banco".
Em que resultou o "aprofundamento do conhecimento"? A resposta talvez se encontre no último parágrafo dos auditores, a Price, WaterHouse & Coopers: " ... em resultado de uma profunda análise dos principais activos e passivos do banco que tem vindo a ser feito desde a privatização e com o objectivo de fazer reflectir nas demonstrações financeiras as suas melhores estimativas da situação patrimonial do banco a 31 de Dezembro de 1999 (a Administração) decidiu criar provisões no montante de 2 217 623 milhões de contos.
Estas provisões, embora parcialmente relativas à actividade do banco desde a sua criação em 1992 foram essencialmente imputadas a resultados do exercício dada a dificuldade de imputação aos diferentes exercícios económicos até 1998..."
Que quer isto dizer? Uma fonte próxima à Administração do BCM explicou ao "mt" que Jardim Gonçalves, na qualidade de novo patrão - por representar o BCP - deu ordens para se fazer uma nova avaliação dos activos do banco, em particular do Crédito Concedido. O resultado foi o desastre de se ter constatado que tudo o que o BCM disse no passado sobre os seus lucros era mentira. Houve sempre prejuízo. As elites ligadas ao poder receberam créditos que nunca pagaram e nunca vão pagar. Por isso, agora chegou o momento de limpar tudo. E, sobretudo, fazê-lo agora é importante porque assim, desde os créditos mal parados às consequências da(s) fraude(s), no mesmo saco, fica tudo no arquivo morto.

Face a este cenário, o analista que temos vindo a citar comentou: "Enquanto as fases 1 e 2 não estivessem terminadas, seria perigoso o BCM apresentar prejuízos. Agora já há o BCP em cena. Qual é o preço desta entrada em cena de Jardim Gonçalves e do BCP? Penso que muitas das perguntas e receios avançados pelo 'mt' estão, agora, pelo menos semi respondidas.
A primeira, a da hesitação quanto ao monopólio: para que Jardim Gonçalves aceitasse a batata quente do BCM, o governo não se opôs a que o BCP ficasse com o monopólio do sistema financeiro. A segunda, a de não levantar questões sobre quem são os devedores e gangsters. O relatório, não dizendo nada sobre a existência de tais problemas, é um bom contributo para se tentar o esquecimento."
Segundo as nossas fontes, Gonçalves "fechou" o negócio BCM impondo ao Estado moçambicano três condições: ele punha o dinheiro para recuperar o banco mas, publicamente, os prejuízos do banco tinham que ser vistos claramente como anteriores à sua entrada; o Estado devia garantir, em papel, que acompanharia o saneamento financeiro, mas sem que estivesse obrigado a cobrir rapidamente a sua parte (por isso é que, talvez, as obrigações de tesouro anunciadas pelo governo não representam a totalidade do valor que o Estado deve entregar ao banco) e o Estado garantia um actuação no sentido de o monopólio BIM/BCM não suscitar um côro de oposições públicas dentro do sector financeiro moçambicano (por isso é que nenhum banco se opôs abertamente contra o monopólio).
(redacção e M.M.)

 



Pedro Bule deixa a UTRA

(Maputo) A Ministra do Plano e Finanças, Luísa Diogo, acaba de exonerar o director da Unidade Técnica de Reestruturação das Alfândegas, Pedro Bule, segundo comunicaram-nos várias fontes durante o fim de semana. A informação circula nalguns círculos restritos de Maputo há alguns dias, mas só na sexta-feira é que começou a ser muito comentada dentro das Alfândegas.
As nossas fontes indicaram que o provável substituto de Bule será o actual Juíz-Conselheiro do Tribunal Administrativo, Barros dos Santos. O "mt" apurou que a ministra Luísa Diogo contactou recentemente o Dr Barros dos Santos, solicitando a sua colaboração no processo de reforma das Alfândegas.
No seu último encontro com os jornalistas, na quinta-feira passada, o PM, Pascoal Mocumbi, a uma pergunta do "mt" sobre o assunto, negou comentar, remetendo-nos para a ministra Diogo.
Ninguém ainda nos avançou as razões da saída de Bule da UTRA. Pedro Bule já foi alvo, em 1992, de um processo disciplinar, que culminou com a sua exoneração do cargo de Director Nacional das Alfândegas, por indicação do antigo ministro das Finanças, Eneas Comiche, alega-damente devido a "irregularidades na gestão" da instituição. Naquilo que algumas fontes consideram de "estranho", Bule foi indicado, em 1996, para a direcção da UTRA, a unidade governamental que coordena o actual processo de restruturação das Alfândegas, a cargo da firma britânica Crown Agents. (da redacção)



Ungulani Ba ka Khosa:
ESTEPE
As páginas necrológicas

Há sete anos atrás, Cardoso foi ao meu serviço e convidou-me para colaborar no então jovem jornal "mediaFAX". Pôs-me uma condição: a tua opinião não deve transcender dois pequenos parágrafos. Disse-lhe: Isso é impossível. Vivemos num país de faladores e a escrita, por consequência, tende, por variadíssimas razões, a transbordar o leito. Experimenta, disse-me. Pensei, repensei, e acabei por aceitar o desafio. Com ele trabalhei durante mais de cinco anos. E em sua homengem vai esta curtíssima crónica com um pedido aos investigadores do assassinato: leiam as páginas necrológicas e tentem encontrar os algozes no meio das variadíssimas mensagens de condolências. Os assassinos são, por vezes, os primeiros a chegar ao cemitério.
Paz a tua alma, Cardoso.
 


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