Montepuez: A versão da LDH sobre as mortes na cadeia
(Maputo) Eis o que diz o relatório da Liga dos Direitos Humanos
(LDH), especificamente sobre os acontecimentos na cadeia de
Montepuez:
"A cela onde se registaram as mortes tem 7 x 3 de dimensões, com
dois pequenos buracos e uma pequena janela insuficientes para
permitir a ventilação para centenas de pessoas. No dia 18 de
Novembro, a cela já albergava 162 reclusos, tendo sido ordenada
a transferência de cerca de 108 para a cadeia civil pelo então
director da PIC ficando no Comando da PRM 54 detidos. Foi
precisamente neste dia 18 que se registarm as primeiras 8 mortes.
No dia 21 voltaram a entrar 73 detidos, 26 dos quais vindos de
Nairoto, zona tida como dos Naparamas que juntando aos 54
perfizeram 127 detidos. Estes dados foarm confirmados pelo
oficial de permanência.
No entanto, os números dos detidos no dia 21 de Novembro para
a cadeia da Polícia, divergem dependendo das fontes.
O Administrador Distrital fala, por exemplo, de cinco reclusos
vindos de Nairoto e não sabe nada acerca dos outros reclusos,
contrastando com as informações do Oficial de Permanência.
Um dos sobreviventes falou de mais de 50 detidos só de Nairoto e
mais de 40 vindos de diferentes localidades e bairros de
Montepuez que adicionados com os 54 que já haviam, atingiriam
cerca de 144 reclusos.
Por volta das 21 horas do dia 21 de Novembro, os reclusos
gritaram pedindo socorro e os polícias não acudiram. O carcereiro
disse ter alertado o seu superior presente na ocasiao para autorizá-lo
a abrir a cela e não foi atendido.
Um sobrevivente de nome Manuel Aly disse que quando os
reclusos pediam socorro, os polícias gozavam-lhes, iluminando a
cela através de uma lanterna. Ele confirmou que no meio da
agonia, as pessoas foram perdendo ar e morrendo asfixiadas.
Para Aly sobreviver, procurou ar num espaço que serve de casa
de banho e outros foram por debaixo da porta de grades.
Segundo o sobrevivente, antes do momento de agonia, um dos
reclusos teria acendido uma vela que passado algum tempo se
apagou. Terá sido, provavelmente, esta combustão que terá
reduzido em grande medida o pouco oxigénio.
Tanto os reclusos como os polícias não sabem da proveniência da
vela e do isqueiro usado para acender: dizem não ser normal a
presença de objectos daquela natureza dentro da cela.
Na manhã de 22 de Novembro, quando os polícias abriram as
portas encontraram 75 pessoas mortas e os cadáveres apinhados
uns sobre os outros e 21 sobrevivents.
Não há fontes independentes que possam confirmar o número
exacto dos mortos e dos sobreviventes. Pelos dados obtidos,
supõe-se que na cela havia para além de 96 reclusos,
depreendendo-se assim que tenham havido mais mortes.
Fora as mortes registadas na cela do Comando da Polícia, fontes
populares revelaram a existência de cerca de 130 mortes, que
incluem camponeses perseguidos nas machambas, protagonizadas
provavel-mente por grupos vigaristas, ligados aos grupos
dinamizadores.
OUTROS ASPECTOS NEGATIVOS
Em Montepuez, os secretários dos Grupos Dinamizadores e
outros membros da célula do Partido nos bairros são também
juízes eleitos. Não parece ser justo a presença deles em
julgamentos deste com motivações nitidamente políticas.
A justeza dos julgamentos é questionável. O próprio Juíz não foi
capaz de ceder à Comissão dados sobre como estariam a
decorrer os julgamentos e os reclusos sentenciados falaram de
disparidades nos custos dos preparos judiciais e das multas
decorrentes das penas de prisão. (redacção)
metical - arquivo 2000 |