Comunicado da família do Carlos Cardoso MENSAGEM AO CARLOS CARDOSO Meu querido Carlos, Passaram já 60 dias desde que tu nos deixaste fisicamente, e continua a custar-nos a acreditar que isto te tenha acontecido e que seja possível tal acontecimento ter tido lugar em Moçambique. Mas sabemos que tu só nos deixaste fisicamente. Sempre disseste que depois da morte física, o contacto continuaria.
E, hoje, sentimos que já está aberto o caminho para tu comunicares connosco. Como estás a ver, em Moçambique e em muitas partes do mundo, tu, o teu trabalho, os teus ideais, a tua luta não foram esquecidos. Nós aqui presentes, os teus filhos, Ibo e Milena, a tua mulher, Nina, eu, o teu irmão, os teus familiares, os teus colegas do Metical, os teus colegas da profissão, os teus amigos, somos, em número, uma pequena amostra de todos os que em Moçambique e pelo mundo fora te recordam e de alguma forma continuam a lutar pelos princípios fundamentais que sempre regeram a tua vida. Isto é visivel através das inúmeras mensagens que te têm sido dirigidas, das mensagens publicadas nos órgãos de informação por vários sectores da sociedade civil, nacional e estrangeira, e pelas assinaturas que hoje foram publicadas, que por não te esquecerem, pedem que seja feita justiça. No entanto, infelizmente os que aqui estão hoje, aqueles que exigem justiça, não ocupam cargos nas instituições do poder que têm a chave para fazer com que, pelo menos, os teus assassinos e mandantes sejam descobertos e punidos. Infelizmente, 60 dias depois, a investigação continua quase no mesmo ponto em que estava no dia a seguir ao teu assassinato. Dói muito, a nós todos que tanto queremos que justiça seja feita, saber, pela boca do Procurador Geral da República, que 60 dias depois da tua morte nem o relatório da autópsia foi ainda junto ao processo; primeiro, porque era preciso pagar, depois porque o médico legista foi de férias sem o assinar. Ou seja, um dos instrumentos mais importantes para a descoberta da verdade está pendente, há 60 dias, de uma ilegalidade, de um milhão de meticais, da assinatura duma pessoa. Dói muito! Dói muito constatar que, apesar de todas as promessas feitas pelo Chefe do Estado e pelo Governo, não se conseguiu, ainda, sequer, ultrapassar estas pedrinhas no caminho da investigação. E, Carlos, nós, teus filhos, tua mulher, teus familiares, teus amigos, interrogamo-nos: Como é que se sentiriam os altos dirigentes deste país, se algo igual acontecesse na investigação dum assassinato dum seu familiar directo, dum pai, duma mãe, dum cônjuge? Será que também aceitariam, considerariam normal e natural esperar 60 dias por um relatório da autópsia? Será que também aceitariam, considerariam normal e natural toda a falta de investigação? Será que aceitariam não receber nenhuma informação, nem pública, nem sequer à família, sobre o que se estava a passar? Mas, Carlos, podes estar certo: Não vamos desistir. Vamos continuar a pressionar. Vamos continuar a insistir. Exigimos Justiça! Maputo, 22 de Janeiro de 2001 metical - arquivo 2001 |