Moçambique on-line

metical de 15 de Março 2001


Buda não defende Ramaya

(Maputo) O conhecido jurista Abdul Carimo Issá (Buda), antigo vice Presidente da Assembleia da República, não vai defender Vicente Narotam Ramaya, arguido no processo da fraude ao BCM e detido na terça-feira sob suspeita de envolvimento no assassinato do editor do "mt", Carlos Cardoso. Abdul Carimo disse-nos ontem que deixou de representar Ramaya em Junho de 2000, por causa de outros afazeres que o tem ocupado (como o seu curso de mestrado, a sua direcção científica à delegação do ISPU em Quelimane, entre outros).

Aliás, segundo ele, a 2 de Junho de 2000 escreveu um ofício ao Tribunal Judicial da Cidade expressando o desejo de deixar de ser mandatário judicial de todos os processos que vinha defendendo. Por outras palavras, Abdul Carimo Issá diz ter deixado de exercer advocacia desde essa altura.

Quando o caso da fraude ao BCM despoletou, o jurista viu a "Ad Júris" ser contratada para a defesa de Vicente Ramaya, antigo gerente do balcão do BCM da Sommershield, onde a fraude dos 14 milhões de USD se deu em 1996, mas negou que tenha trabalhado no processo. Na "Ad Júris" são também sócios os advogados Ayres do Amaral e Ana Pessoa. Segundo, Abdul Carimo, por causa da sua indisponibilidade, foi Ayres do Amaral quem esteve a lidar directamente com o processo da fraude ao BCM, em defesa de Ramaya.

Ontem, o "mt" apurou que o advogado de Vicente Ramaya no caso do BCM chama-se Abdul Gani Hassan, que detém uma firma com o nome Hassan Hassan. Gani Hassan confirmou-nos o facto e acrescentou que ontem estava a "enfrentar dificuldades" para meter, na Polícia de Investigação Criminal (PIC), a procuração que lhe possibilitará ter acesso ao processo.

O "mt" apurou que a legalização da prisão de Vicente Ramaya e irmãos Satar, detidos na terça-feira, ainda não aconteceu. O prazo legal de 48 horas termina hoje, mas o mesmo poderá ser estendido por mais três dias, no caso de a Polícia apresentar razões fundamentadas para a demora.

A defesa de Ramaya não vai ser feita, portanto, pela "Ad Júris". Aliás, Abdul Carimo não o podia fazer por razões óbvias, como aliás ele reconhece. "Por questões deontológicas nunca poderia defender Ramaya. Como sabe, tenho colaborado com a assistente do processo (Lucinda Cruz) e fui um grande amigo do Carlos Cardoso".

Anteontem na Assembleia da República, o deputado Eneas Comiche (que é administrador do BCM), voltou a reiterar, na presença do PGR, Joaquim Madeira, a necessidade de se levar o caso BCM a julgamento e fez uma referência a "advogados que são deputados e defendem criminosos". Esta referência atingiu o dr. Abdul Carimo, uma vez que este foi, na presente legislatura, deputado- suplente da AR pela bancada da Frelimo. Pedimos a Carimo um comentário às declarações de Comiche.

"Concordo plenamente com o que o deputado Eneas Comiche disse. Mas defendo que a actividade parlamentar deveria ser exercida com exclusividade. Isso daria mais tempo aos deputados para estudarem os problemas e representarem devidamente o eleitorado".

A afirmação de Comiche sobre "deputados que defendem criminosos" caiu mal nalguns círculos da advocacia moçambicana, onde se questiona o facto de o administrador do BCM só intervir na AR quando se trata de defender os interesses do seu banco".
(Marcelo Mosse)


metical - arquivo 2001


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