Moçambique on-line

metical de 19 de Março 2001


Acusações contra Mazula

(Maputo) Os docentes da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) acabam de tomar posição relativamente ao processo de selecção de individualidades reitoráveis para o cargo de reitor da maior universidade pública. Essa posição deverá ser entregue dentro de dias ao Governo. Na semana passada, o jurista Carlos Cauio, que chefiou uma Comissão de selecção de reitoráveis criada pelo Conselho Universitário (CUN), anunciou que tinha dado entrada na comissão apenas uma candidatura para o cargo de reitor, designadamente a de Brazão Mazula. A comissão estava a espera de obter pelo menos três nomes de reitoráveis para submetê-los ao Presidente da República, que é quem tem competência para nomear o reitor da UEM.

A posição dos docentes, depois de afirmar que "os sucessivos reitores da Universidade Eduardo Mondlane sempre foram capazes de gerir as diferenças, evitando a radicalização de posições e assegurando no essencial a mobilização da comunidade universitária", refere que "o mandato do Reitor Brazão Mazula viria a ser marcado por uma clara deterioração do clima interno da Universidade. O espírito académico de debate aberto e de colaboração na procura das soluções para as dificuldades da instituição que caracterizara a acção dos seus predecessores foi substituído por uma atitude de confrontação com os docentes e com Governo, ao mesmo tempo que se tornava uma prática habitual da Reitoria o desrespeito pelos princípios e normas vigentes na academia".

Os docentes dizem que Mazula "usa a Universidade em vez de servi-la" e que a sua gestão "tem sido comandada por uma dupla estratégia. Por um lado, o aparelho burocrático central da UEM vem sendo reforçado em detrimento da capacidade de gestão das Faculdades e dos Departamentos. O crescimento da burocracia central, especialmente dos sectores que servem directamente o Reitor, tanto em pessoal como nos recursos materiais e financeiros que lhe são alocados é visível na evolução dos orçamentos anuais da UEM. Ao mesmo tempo, o princípio de 'confiança', que passou a ser usado pelo Reitor nas contratações e nas nomeações para cargos de direcção, em detrimento de critérios de experiência profissional, competência e mérito, tem resultado na implantação de um sistema clientelista impróprio duma Universidade".

Por outro lado, sustentam os professores, "vem sendo feito, à custa de fundos públicos, um grande investimento na promoção da imagem pessoal do Reitor junto da sociedade. É assim que o Reitor passou a dispor de um assessor internacional de nacionalidade brasileira, especialista de comunicação e propaganda política, pago com fundos dos créditos do Banco Mundial, de um Gabinete de Imprensa e de um Boletim Informativo de luxo. A Universidade tornou-se nos últimos tempos um dos principais clientes publicitários dos media, praticamente ao mesmo nível de empresas multinacionais de produção de refrescos e cervejas".

A posição dos docentes faz também referência à gestão administrativa, financeira e patrimonial da UEM, a qual caracteriza-se, alegam, por uma "desorganização, ineficiência e clima de secretismo que atingiu a instituição a nível central, falta de transparência na alocação de fundos para a pós-graduação e macrocefalia administrativa em detrimento do reforço da capacidade científica da Universidade".

Quanto ao processo de selecção de individualidades reitoráveis levado a cabo pela comissão criada pelo CUN, os docentes dizem que o mesmo já estava viciado à partida. Depois de relatar vários episódios que levaram o governo a obrigar a UEM para que o processo tivesse a participação da comunidade universitária, os docentes consideram que isso não chegou a acontecer. A ideia era a de que a Comissão ouvisse as contribuições dos docentes sobre as formas e critérios de identificação de individualidades reitoráveis e também sobre as modalidades de organização da consulta.

"O modelo de consulta apresentado pela Comissão e as normas por ela estabelecidas transparecem a má-fé e a manipulação", dizem os professores, para quem "é inaceitável que haja igualdade no voto dos estudantes, dos funcionários e dos docentes e que, para além disso, o Conselho Universitário se reserve o direito de não aceitar os resultados da consulta e de fazer a sua proposta de nomes de acordo com outros dados e factores que tiver recolhido".

Os docentes acabam apelando para o boicote de toda a comunidade universitária, a exigência de uma explicação do reitor sobre a "quebra do diálogo" do reitor. Por outro lado, decidiram "proceder a uma consulta aos docentes sobre quem deve dirigir a universidade e encaminhar às entidades competentes o sentimento da academia".
(da redacção)


metical - arquivo 2001


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