Acusações contra Mazula (Maputo) Os docentes da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) acabam de tomar posição relativamente ao processo de selecção de individualidades reitoráveis para o cargo de reitor da maior universidade pública. Essa posição deverá ser entregue dentro de dias ao Governo. Na semana passada, o jurista Carlos Cauio, que chefiou uma Comissão de selecção de reitoráveis criada pelo Conselho Universitário (CUN), anunciou que tinha dado entrada na comissão apenas uma candidatura para o cargo de reitor, designadamente a de Brazão Mazula. A comissão estava a espera de obter pelo menos três nomes de reitoráveis para submetê-los ao Presidente da República, que é quem tem competência para nomear o reitor da UEM. A posição dos docentes, depois de afirmar que "os sucessivos reitores da Universidade Eduardo Mondlane sempre foram capazes de gerir as diferenças, evitando a radicalização de posições e assegurando no essencial a mobilização da comunidade universitária", refere que "o mandato do Reitor Brazão Mazula viria a ser marcado por uma clara deterioração do clima interno da Universidade. O espírito académico de debate aberto e de colaboração na procura das soluções para as dificuldades da instituição que caracterizara a acção dos seus predecessores foi substituído por uma atitude de confrontação com os docentes e com Governo, ao mesmo tempo que se tornava uma prática habitual da Reitoria o desrespeito pelos princípios e normas vigentes na academia". Os docentes dizem que Mazula "usa a Universidade em vez de servi-la" e que a sua gestão "tem sido comandada por uma dupla estratégia. Por um lado, o aparelho burocrático central da UEM vem sendo reforçado em detrimento da capacidade de gestão das Faculdades e dos Departamentos. O crescimento da burocracia central, especialmente dos sectores que servem directamente o Reitor, tanto em pessoal como nos recursos materiais e financeiros que lhe são alocados é visível na evolução dos orçamentos anuais da UEM. Ao mesmo tempo, o princípio de 'confiança', que passou a ser usado pelo Reitor nas contratações e nas nomeações para cargos de direcção, em detrimento de critérios de experiência profissional, competência e mérito, tem resultado na implantação de um sistema clientelista impróprio duma Universidade". Por outro lado, sustentam os professores, "vem sendo feito, à custa de fundos públicos, um grande investimento na promoção da imagem pessoal do Reitor junto da sociedade. É assim que o Reitor passou a dispor de um assessor internacional de nacionalidade brasileira, especialista de comunicação e propaganda política, pago com fundos dos créditos do Banco Mundial, de um Gabinete de Imprensa e de um Boletim Informativo de luxo. A Universidade tornou-se nos últimos tempos um dos principais clientes publicitários dos media, praticamente ao mesmo nível de empresas multinacionais de produção de refrescos e cervejas". A posição dos docentes faz também referência à gestão administrativa, financeira e patrimonial da UEM, a qual caracteriza-se, alegam, por uma "desorganização, ineficiência e clima de secretismo que atingiu a instituição a nível central, falta de transparência na alocação de fundos para a pós-graduação e macrocefalia administrativa em detrimento do reforço da capacidade científica da Universidade". Quanto ao processo de selecção de individualidades reitoráveis levado a cabo pela comissão criada pelo CUN, os docentes dizem que o mesmo já estava viciado à partida. Depois de relatar vários episódios que levaram o governo a obrigar a UEM para que o processo tivesse a participação da comunidade universitária, os docentes consideram que isso não chegou a acontecer. A ideia era a de que a Comissão ouvisse as contribuições dos docentes sobre as formas e critérios de identificação de individualidades reitoráveis e também sobre as modalidades de organização da consulta. "O modelo de consulta apresentado pela Comissão e as normas por ela estabelecidas transparecem a má-fé e a manipulação", dizem os professores, para quem "é inaceitável que haja igualdade no voto dos estudantes, dos funcionários e dos docentes e que, para além disso, o Conselho Universitário se reserve o direito de não aceitar os resultados da consulta e de fazer a sua proposta de nomes de acordo com outros dados e factores que tiver recolhido". Os docentes acabam apelando para o boicote de toda a comunidade universitária, a exigência de uma explicação do reitor sobre a "quebra do diálogo" do reitor. Por outro lado, decidiram "proceder a uma consulta aos docentes sobre quem deve dirigir a universidade e encaminhar às entidades competentes o sentimento da academia". metical - arquivo 2001 |