Moçambique on-line

metical de 18 de Abril 2001


a opinião de: Ricardo Timane
UMA ALTERNATIVA DE ESPERANÇA

A hora das escolhas difíceis chegou.O nosso país atravessa um período muito conturbado da sua História. O Poder actual procura esconder os numerosos problemas debaixo do tapete, e depois põe-se a pintar a realidade com as cores maravilhosas da situação macroeconómica, cozinhando esse prato esquisito que se chama de crescimento económico de "dois dígitos", e que a maioria dos cidadãos e cidadãs moçambicanos de Cabo Delgado a Maputo e de Manica à Zambézia, não come nem lhe sente o cheiro. A oposição comandada por Dhlakhama, resmunga, grita, bate com o pau na mesa, mas trabalhar para apresentar uma única ideia e projecto de melhoria das condições de vida dos moçambicanos, está quieto que isso cansa muito. Num dado momento atira pedras à Frelimo e ao Governo que diz não reconhecer, no outro a seguir agarra-se aos beijos ao cheque do Ministério do Plano e Finanças e vai a correr para o banco para receber o salário de deputado, e depois disso põe-se a suplicar ou com ameaças de violência, de acordo com as suas conveniências, para que os seus adversários políticos, a quem chama de corruptos, dividam o bolo do poder porque afinal até são irmãos, como diz Dhlakhama.

Perante a falência política, o desgaste e o cansaço evidentes do Poder actual para dirigir os destinos do país e ante a irresponsabilidade e menoridade política da oposição parlamentar, há que iniciar a construção, serena mas determinada, de uma alternativa de esperança. Essa alternativa, tão necessária para devolver aos moçambicanos e moçambicanas a confiança e segurança no futuro, existe ainda que apenas em estado latente na sabedoria e paciência secular do Moçambique profundo. Só que a sua planificação e organização laboriosas exigem o rompimento com comodismos, amiguismos, camaradismos e até medos que prendem cidadãos e cidadãs a fidelidades partidárias à Frelimo e à Renamo, relegando para lugar secundário o interesse nacional. Sei do que estou a falar por experiência própria.

Nunca fui membro da Frelimo mas fui militante da mesma causa. Dela bebi jovem, então na vintena de anos, as essências da política e da ética de amar e servir o Povo e Moçambique. Como, de resto, aconteceu com milhões de outros jovens da época espalhados por todo o nosso belo país. Entendo ainda hoje, aos 47 anos de idade, que foi o mais nobre dos ensinamentos da grande paixão de sentir, pensar e agir não só por Moçambique mas pela Humanidade inteira. E por isso, essa outra Frelimo de ética, princípios, solidariedade e missão de servir o Povo, apesar do seu legado de outras políticas incorrectas, para mim continua, ainda que o partido que ostenta o mesmo nome siga agora em direcção a destinos desconhecidos e obscuros.

Mas um partido não é uma massa de gente, são pessoas de carne e osso com quem se desenvolvem afectos, laços de amizade e de camaradagem. De modo que dá um nó no estômago ter que pegar na caneta ou no computador ou fazer um discurso criticando publicamente a acção de um Poder, onde estão muitas pessoas conhecidas e amigas, por quem tenho grande estima e apreço pessoal, como por exemplo, o Sr. Primeiro-Ministro. Agora pode-se imaginar a situação de tantos e tantos militantes de base, veteranos da Luta de Libertação Nacional, espalhados por esse país fora, que sofrem com o estado de coisas na nossa terra, mas preferem permanecer mudos e passivos, a agir publicamente pela mudança, com receio de quebrar afectos, fazer estremecer amizades e laços de camaradagem antigos e até por medo de represálias. Conheço muitos, muitos casos desses. E provavelmente isso também se dá com membros da Renamo que gostariam de ver o seu partido transformar-se numa oposição séria, trabalhadora, construtiva e democrática. Humanamente até é compreensível. Só que a gravidade das feridas no corpo do nosso país não permite que continuemos a fechar os olhos, e assistamos com um encolher de ombros, quando Moçambique resvala perigosamente para o abismo.

Seria uma tragédia para o país, se, daqui a quatro anos, nas eleições gerais, os moçambicanos mais uma vez só pudessem optar entre um Poder actual que governa como se Moçambique fosse propriedade da sua élite partidária e uma oposição dhlakhamista sedenta de vingança, impaciente por ir, por sua vez, ao assalto da já pouca riqueza nacional e com apetites de golpear a Constituição a seu bel-prazer, a pretexto de "uma situação de crise". Ter que escolher entre dois males o menor, não me parece ser uma proposta aceitável, tanto mais que, por desespero, tudo indica que os moçambicanos iriam optar pelo mal maior, empurrados paradoxalmente, pelos erros do Poder actual. Em nome do interesse nacional, chegou a hora, portanto, de romper com comodismos, camaradismos e medos. Os moçambicanos e as moçambicanas independentemente das suas origens partidárias, necessitam de se dar as mãos numa frente patriótica ampla e contruir uma alternativa de esperança para Moçambique. Uma alternativa contra a exclusão, pela justiça social, pela dignidade e eficácia das instituições, pela ética governativa e pela democracia participativa dos cidadãos e para os cidadãos.


metical - arquivo 2001


Moçambique on-line - 2001

Clique aqui voltar para voltar à página principal