Conhecidos nomes de alguns dos mortos de Montepuez (Maputo) Pelo menos 87 de um universo ainda desconhecido de mortos na famosa cela de Montepuez, em Novembro do ano passado, são já conhecidos pelos próprios nomes, ontem divulgados em Maputo por Alice Mabota, Presidente da Liga dos Direitos Humanos (LDH). As idades dos mortos variavam de 18 a 89 anos. As mais frequentes variavam de 40 a 70 anos. Segundo Mabota, a sua organização criou em Novembro uma comissão de juristas de advogados da LDH e outros independentes que visitaram as províncias de Sofala, Manica, Nampula e Cabo Delgado, locais onde se registaram "as maiores detenções, julgamentos, torturas, mortes". Esta comissão auscultou algumas vítimas, seus familiares, e outros intervenientes nas manifestações. Segundo Mabote, nos distritos de Buzi, Dondo e Nhamatanda, em Sofala, a Polícia dispersou os manifestantes enquanto ainda se concentravam, usando gás lacrimogéneo e jactos de água. Seguiram-se as detenções na via pública, a caminho da sede da Renamo e mesmo das residências. "Até foram presos alguns mirones e transeuntes que nada tinham a ver com as manifestações". Esses presos viriam a ser deslocados para uma pequena cela na cidade da Beira "onde abundam pulgas e fezes humanas". A fonte denunciou que, na cadeia da Beira, "as celas nºs 6 e 7 da B.O. têm uma resistência eléctrica destinada a provocar calor intenso no interior". Foi numa delas que o cidadão Joaquim Mavula perdeu a vida "por asfixia, tendo o seu cadáver permanecido com os vivos até ao dia seguinte". Em Dondo foram registados 41 arguidos, dois dos quais absolvidos. Em Nhamatanda, há 20 arguidos, quatro dos quais absolvidos. Na província de Manica havia 55 arguidos, quatro dos quais absolvidos. Nas celas da cidade de Nampula, uma brigada da LDH chegou quando os presos em conexão com as manifestações tinham já cumprido as suas penas. Mais ainda foram a tempo de reparar que celas com capacidade para 70 reclusos albergavam mais de 400. Um dos detidos disse à LDH estar lá há nove meses, sem julgamento nem assistência médica, apesar de estar com as pernas inchadas. A LDH lamenta a "junção de menores de idade com os adultos e doentes, que padecem de sarna, bilharziose, tuberculose, HIV/SIDA". Nalguns distritos de Nampula, como Angoche, a LDH constatou que "as janelas das celas estão seladas com blocos, deixando pequenos orifícios". Em Ribaué constatou 15 detidos e dois mortos; em Moma sete feridos com arma de fogo e seis mortos; em Mogovolas três condenados, três feridos e três mortos; em Mutuale sete presos. Em Montepuez há "aldeias fantasmas" devido ao "abandono dos residentes com o receio de serem perseguidos e mortos". Um vendedor ambulante que esteve detido numa esquadra com 82 pessoas contou à LDH que não tinha água nem comida, que "suspeita" que as mortes tenham derivado da introdução de "um produto químico, pois como sobrevivente tem ainda sequelas", que sobreviveu "à tragédia por encontrar-se perto da latrina e teve que utilizar a urina para beber e humedecer o seu corpo", que aos familiares dos mortos não lhes foi dado tempo para enterrarem os seus entes queridos e que mesmo para visitarem o cemitério precisavam de autorização municipal; por fim, este vendedor, embora já libertado, está "impedido" de continuar com a sua actividade. Ainda em Montepuez, a LDH encontrou um homem de 71 anos que "não esteve nas manifestações" mas que "sofreu torturas, bofetadas e várias pedradas na cabeça contra a parede". Na famosa cadeia de Montepuez, cujo número de mortos continua desconhecido, há "pequenas remodelações", como "uma abertura traseira de respiradouros e substituição de portas". A brigada deu conta que 50 detidos em conexão com as manifestações já estavam soltos. Alice Mabota comentou em conferência de imprensa que os julgamentos relacionados com as manifestações "foram recordes em Moçambique" pela sua
brevidade e "não foram justos porque alguns juizes eleitos eram chefes dos Grupos Dinamizadores". metical - arquivo 2001 |