Os irmãos Satar e a taxa de câmbio (Maputo) O que têm a ver os irmãos Satar com a depreciação acentuada da moeda? Talvez muito, talvez pouco... O certo é que, observando o comportamento da taxa ao longo dos primeiros seis meses deste ano, vai-se notar que a depreciação entrou num ritmo mais acelerado desde a data em que aqueles comerciantes, ligados à Unicâmbios, foram detidos por suspeita de envolvimento no assassinato do editor do mt Carlos Cardoso. A detenção teve lugar a 13 de Março de 2001. Segundo os dados do BM, de Janeiro a Março a depreciação real efectiva do Metical foi de 9,2%, e Março contribuiu com a parte de leão. Olhando-se para o gráfico que representa a paridade MZM/USD, pode-se notar um ritmo de depreciação mais ou menos lento entre Dezembro de 2000 e Fevereiro de 2001, atingindo os 5%, e um acelerar visível em Março. Na sua explicação das causas da depreciação, o BM admite pela primeira vez que uma delas foi esta: "outros factores que mexem com as expectativas dos agentes económicos (clima político, impacto dos processos no BCM e Banco Austral, medidas do fórum policial e judicial contra o crime organizado, especulação, entre outros)". Nos "transparentes" que o banco mostrou aos jornalistas, a questão do crime organizado tinha uma explicação mais restrita. É que, podia-se ler, com esse "crime organizado" estavam "envolvidos operadores do mercado cambial". Quando Clara de Sousa se abriu a perguntas, ela não quis indicar nomes e detalhar sobre o assunto. Insistiu que a taxa de câmbio é também influenciada quando se nota "determinada pressão policial que causa nervosismo às praças". Mas pressão policial sobre quê? perguntou o mt. Clara de Sousa respondeu que tem havido pressões policiais sobre determinadas operações que afectam a estabilidade da moeda e algum controle alfandegário. E rematou: "Não posso especificar, isso cabe a vocês". Mas a especificação já estava dada pelo próprio banco, ao referir-se às "medidas de fórum policial e judicial contra o crime organizado". É que os únicos operadores do mercado cambial que estão a braços com uma "medida judicial" são os irmãos Satar: eles estão presos por ordem de um juiz de instrução. Como é que a sua prisão poderia fazer disparar o USD? Uma das alegações que pesa sobre os irmãos Satar, proprietários de três casas de câmbios na cidade de Maputo, é a da prática de agiotagem envolvendo altas somas em dinheiro, coisa que eles sempre recusaram admitir. Os analistas crêem que a taxa de câmbio tem sido refém de determinadas redes comerciais da praça que retaliam contra o Estado quando em face de uma acção (ou da sua expectativa) vigorosa da lei. A forma de retaliação é simples: transferem-se altas somas em USD para o estrangeiro ou guardam-nas debaixo dos colchões. Isso provoca uma
certa escassez de USD, aumentando a procura e afectando negativamente a taxa. metical - arquivo 2001 |