Matando a galinha dos ovos de ouro (6) (Maputo) Tanto o Banco Comercial de Moçambique, BCM, como o Banco Austral sofreram crises em 2000 e precisaram de uma reestruturação profunda. Em Janeiro de 2000, Jardim Gonçalves, patrão do Banco Comercial Português, BCP, ficou com o Grupo José de Mello o que lhe trouxe o controlo do BCM. Finalmente o BCM teve auditores a fazer as contas a sério. A 4 de Outubro de 2000 o BCM anunciou que um estudo dos seus auditores tinha mostrado a necessidade de uma provisão adicional de 114 milhões de US$ para dívidas não pagas. Os accionistas teriam de meter 106 milhões de capital extra. A cota do governo era de 52 milhões em forma de títulos. Numa declaração a 22 de Março de 2001, o BCM anunciou um prejuízo de 27 milhões de US$ para 2000. Dizia que 33% do total do portfolio de crédito era agora considerado vencido e que se precisava de mais uma provisão de 48 milhões para cobrir dívidas não pagas além de "diversos" - elevando para 162 milhões de US$ o total das provisões para crédito mal parado. O BCP já controlava o Banco Internacional de Moçambique, BIM. Havia a preocupação de que Gonçalves dominasse o sector financeiro e ele veio quatro vezes a Maputo para encontros com ministros e funcionários da banca. Finalmente, a 24 de Outubro de 2000, numa conferência de imprensa, disse que o governo tinha aceite que o BCP controlasse o BIM e o BCM. Em contrapartida o BCP metia os 54 milhões necessários para recapitalizar o BCM. Disse depois que sabia onde é que os prejuízos tinham ocorrido mas não ia dizê-lo à imprensa porque as perdas tinham ocorrido em 1999 e mesmo antes, antes do BCP controlar o banco e não era portanto da sua responsabilidade. Gonçalves e o governo tinham chegado a um acordo - seria colocada uma pedra sobre o passado. Nada seria dito ou feito acerca dos prejuízos e fraudes acontecidas antes de 2000 e as duas partes simplesmente fechariam o buraco. Em troca Gonçalves podia dominar o sistema bancário. Entretanto, em Outubro de 2000, o conselho de administração do Banco Austral concordou com o BdM em aumentar o capital e começou a limpar o banco a 31 de Março de 2001. Mas o banco malaio, SBB, já tinha perdido o interesse. O governo da Malásia estava a reestruturar o seu sistema financeiro muito abalado e a 18 de Fevereiro de 2000 anunciou que os seus 58 bancos e sociedades financeiras iam ser integrados em 10 "bancos-âncora". O SBB era um deles e não estava interessado em permanecer num banco difícil em África. Mas só na reunião do conselho de administração de 3 de Abril de 2001 é que a Investil anunciou que não estava preparada para meter mais capital e entregava as suas acções ao governo. O pessoal malaio do banco distribuiu um documento anónimo pelos jornais intitulado "Razões para a saída do SBB de Moçambique". Nele se dizia que os moçambicanos não tinham "uma cultura de pagamento das dívidas", particularmente a elite. "Se lhes negas um empréstimo, estás mal. Se lhes concedes empréstimo estás mal porque eles não pagam". O documento incluia uma lista de alegadas dívidas não honradas de nomes associados com a elite política. Os três donos da Invester tinham empréstimos superiores a 2 milhões de US$ do Banco Austral, de acordo com essa lista. O relatório da KPMG e a lista de maus pagadores publicada pela nova administração sugeriam que mais ou menos metade do total desses empréstimos estavam a ser reembolsados e outra metade estavam vencidos. A maior parte das figuras séniores ligadas ao governo queriam o Banco Austral liquidado, num processo semelhante ao do BCM, pondo uma pedra no assunto dos créditos corruptos. Surpreendentemente o Banco Mundial e a maior parte dos doadores estava de acordo, talvez porque estavam contra que se injectasse ainda mais dinheiro no banco. Mas o FMI
e figuras-chave no Ministério do Plano e Finanças opunham-se à liquidação na base de que isso ia custar ainda mais caro além de destruir a
confiança no sistema bancário. [próximo artigo] metical - arquivo 2001 |