Moçambique on-line

metical nº 1084 de 3 de Outubro de 2001


Matando a galinha dos ovos de ouro (11)
Reflexões Finais

Admite-se que desapareceram do sistema bancário mais de 400 milhões de US$ durante a década de 90. De 1992 a 1996 foram injectados no BCM 100 milhões de US$, 162 milhões foram provisões para crédito mal parado no BCM em 2000 e 2001, e foram precisos 150 milhões para recapitalizar o Banco Austral. As perdas todavia são provavelmente muito maiores.

A corrupção embebeu todo o sistema bancário e ocorreu a alto nível. Um dos banqueiros entrevistados contou que outro alto funcionário da banca, notoriamente corrupto, dizia: "Se eu me afundo, muita gente se afunda comigo. Guardo todas as notas num cofre e posso provar que muita gente altamente colocada levou dinheiro. É a minha protecção".

Mas a informação também pode ser perigosa. Os assassinatos de José Alberto de Lima Félix em 1997, de Carlos Cardoso em 2000 e de António Siba-Siba Macuácua em 2001, aconteceram porque eles sabiam demais sobre fraude e corrupção no sistema bancário de Moçambique.

Como dissemos em capítulo anterior, todos os sistemas bancários apoiam os seus empresários escolhidos. Não é de surpreender que os bancos tenham sido usados para apoiar uma nova burguesia nacional. Mas a linha que demarca este apoio do que é "corrupção", pode não ser bem definida. O que todavia é claro é que quem quer que ordenou os assassinatos de Cardoso e Siba-Siba sabia que os seus actos, se fossem expostos a público, seriam vistos dentro de Moçambique como corruptos. Não se trata de serem estrangeiros a definir o que é "corrupção", mas antes os próprios moçambicanos a reconhecerem que as suas actividades nunca seriam aceites pelos seus colegas e compatriotas. Tiveram de matar para tentar evitar que elas fossem do conhecimento público.

Não se tratou simplesmente de empréstimos que não foram reembolsados, mas roubo manifesto, lavagem de dinheiro e negócios ilícitos com divisas. Muitas pessoas meteram a mão no "saco azul". Outros decidiram fazer vista grossa e são culpados de não executarem as suas tarefas no banco como deviam.

Com a privatização dos bancos do Estado em 1996 e 1997, a apropriação indevida de fundos parece ter atingido níveis insustentáveis. Confrontada com a pressão das instituições financeiras internacionais para privatizar os dois bancos estatais numa altura em que não havia interessados, uma parte da elite moçambicana optou por um acordo tácito - as únicas privatizações possíveis terão de ser corruptas, por isso vamos garantir a nossa parte. Para ambos os bancos, nos dois primeiros anos, o dinheiro escorreu tanto para sócios estrangeiros como para nacionais.

Os dois bancos foram privatizados a favor de grupos que envolviam importantes famílias ligadas a altas individualidades do partido e do Estado. Mas em 2001 eles já tinham perdido o controlo de ambos. Por excesso de ganância mataram a galinha dos ovos de ouro? Ou chegaram à conclusão que a oportunidade não ia durar muito e era preciso agarrar o máximo que pudessem o mais depressa possível?

Neste momento a única preocupação é a de apagarem as pistas e esconderem o que foi feito. Alguns estarão dispostos a matar para garantir que os segredos ficam bem guardados.
(Joseph Hanlon)

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metical - arquivo 2001


Moçambique on-line - 2001

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