Moçambique on-line

metical nº 1123 de 27 de Novembro de 2001


A opinião de: Marcelo Mosse

O PÓS-CARDOSISMO

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Carlos Cardoso é um marco incontornável na história do jornalismo moçambicano. A prova é esta: um ano depois, a questão que mais se coloca nos media é "como é o jornalismo moçambicano sem Cardoso".

A resposta consensual, fora algumas execepções curiosas, é: "mau". Mau no sentido em que o seu nível de intervenção critíca baixou. A corrupção é menos investigada, as mentiras do Estado menos denunciadas.

Isto significa que, em certa medida, caminhamos para uma sociedade a uma só voz, esvaziado que está o papel da comunicação social, paralisada que se mostra a cidadania.

Sendo assim, Cardoso encarnava toda uma postura de luta política e social, era a vanguarda de um utopismo que alimentava o nosso futuro.

Por isso, o seu peso na história da comunicação social moçambicana é grande.

E a sua morte inaugurou uma nova etapa, cuja essência parece assentar na queda dos alicerces da edificação de um jornalismo independente e poderoso, esse jornalismo que, nascendo com a Constituição de 1990, fez a ruptura com a aliança maternal ao Estado socialista acabado de enterrar.

Mas Cardoso não foi só um marco para o jornalismo. Foi-o também para a sociedade civil no geral - embora as suas deficiências estruturantes - de que ele era grande estimulador.

O medo que se diz amordaçar o jornalismo também emudeceu as lutas por outras opções políticas e sociais. Coarctou a participação e a produção de alternativas. Em suma, dizimou até o élan vital da nossa democracia: o vigor e a determinação de uma oposição política veiculada, não pelos partidos políticos, mas pela sociedade civil. É isto que caracteriza, um ano depois, o pós-Cardosismo.
 


metical - arquivo 2001


Moçambique on-line - 2001

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