A opinião de: Marcelo Mosse O PÓS-CARDOSISMO [Click here to read the English translation] Carlos Cardoso é um marco incontornável na história do jornalismo moçambicano. A prova é esta: um ano depois, a questão que mais se coloca nos media é "como é o jornalismo moçambicano sem Cardoso". A resposta consensual, fora algumas execepções curiosas, é: "mau". Mau no sentido em que o seu nível de intervenção critíca baixou. A corrupção é menos investigada, as mentiras do Estado menos denunciadas. Isto significa que, em certa medida, caminhamos para uma sociedade a uma só voz, esvaziado que está o papel da comunicação social, paralisada que se mostra a cidadania. Sendo assim, Cardoso encarnava toda uma postura de luta política e social, era a vanguarda de um utopismo que alimentava o nosso futuro. Por isso, o seu peso na história da comunicação social moçambicana é grande. E a sua morte inaugurou uma nova etapa, cuja essência parece assentar na queda dos alicerces da edificação de um jornalismo independente e poderoso, esse jornalismo que, nascendo com a Constituição de 1990, fez a ruptura com a aliança maternal ao Estado socialista acabado de enterrar. Mas Cardoso não foi só um marco para o jornalismo. Foi-o também para a sociedade civil no geral - embora as suas deficiências estruturantes - de que ele era grande estimulador. O medo que se diz amordaçar o jornalismo também emudeceu as lutas por outras opções políticas e sociais. Coarctou a
participação e a produção de alternativas. Em suma, dizimou até o élan vital da nossa democracia: o vigor e a determinação de uma
oposição política veiculada, não pelos partidos políticos, mas pela sociedade civil. É isto que caracteriza, um ano depois, o
pós-Cardosismo. metical - arquivo 2001 |