NoTMoC: Notícias de Moçambique
Arquivo


Notícias de Moçambique
nº 0 1º de Maio 1994 Maputo

 
Este ano, pela primeira vez, o 1º de Maio não será marcado pelo tradicional desfile dos trabalhadores. O Conselho dos Sindicatos da Cidade de Maputo (OTM) pretende organizar uma manifestação após a realização do seu congresso, que terá lugar em breve. O 1º de Maio (domingo) será marcado pela deposição de uma coroa de flores no monumento aos Heróis moçambicanos.
O Governo decretou tolerância de ponto para a segunda-feira dia 2; também é pela primeira vez na história deste país que um feriado é transferido para o dia útil mais próximo.
Na semana passada circulavam rumores em Maputo sobre uma greve geral que estaria a ser organizada para segunda-feira dia 2.

Chissano em digressão
O presidente Joaquim Chissano está a efectuar uma visita de trabalho às províncias de Sofala e Tete. Esta deslocação é vista por muitos como o início da sua campanha eleitoral, fora do tempo estipulado para tal.
Num comício na cidade da Beira, dia 29, que encerrava a sua visita à Sofala, o presidente discursou durante cerca de duas horas. Entre a população presente na praça viam-se dísticos exigindo a "libertação dos presos políticos". Outros dísticos explicavam quem seriam esses "presos": Urias Simango e esposa, Joana Simão, Mateus Gwengere, Lázaro Kavandame, Francisco Ndeo e Raul Casal Ribeiro, todos opositores da Frelimo nos anos 70, mortos há muitos anos. Um outro dístico interrogava: "Frelimo, quem matou Samora?" O presidente no seu discurso não fez nenhuma referência aos dísticos.
Chissano apresentou-se publicamente como candidato do partido Frelimo à presidência. Afastou a possibilidade de se negociar um Governo de Unidade Nacional antes das eleições, ideia defendida ultimamente pela Renamo e alguns partidos da oposição.

Mortes em debate
O tema da morte dos referidos "dissidentes" tem sido levantado repetidamente esses últimos meses. A polémica começou há cerca de três meses quando Domingos Arouca, do partido Fumo, num artigo no semanário Savana exigiu que a Frelimo esclarecesse as circunstâncias da morte do primeiro presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane, morto por uma carta armadilhada em 3 de Fevereiro de 1969.
Este artigo foi o início de uma polémico com Sérgio Vieira.
Acusações apresentadas sem quaisquer provas estão na ordem do dia. Num outro artigo que a Savana publicou em Março, Wehia Ripua, do partido Pademo, acusou Marcelino dos Santos, presidente da Assembleia da República de estar envolvido no assassinato da juiz Emília de Graça Simango, ocorrido em 18 de Fevereiro. Estranhamente, esta grave acusação não suscitou até agora nenhum comentário nem do acusado, nem do Governo, nem do partido Frelimo.

Eleições
De 1 de Junho até 15 de Agosto decorrerá o censo dos eleitores em todo o território.
O presidente do CNE (Conselho Nacional das Eleições), Brazão Mazula, pediu recentemente ao representante especial do Secretário Geral das Nações Unidas, Aldo Ajello, o encerramento dos centros de acantonamento antes de meados de Junho para permitir que os desmobilizados sejam registados para poderem votar.

Desmobilização
A desmobilização está bastante atrasada em relação ao calendário estabelecido. A Renamo, em termos percentuais, desmobilizou mais homens do que o Governo.
Mais avançada está a formação do novo exército, as FADM (Forças Armadas de Defesa de Moçambique). Está em fase adiantada a escolha dos novos oficiais, informou o General Mateus Ngonyamo (ex-Renamo). Dos novos oficiais, 50% serão da Renamo, 50% do exército governamental.
O novo exército terá um efectivo de 30.000 homens. Já começaram os treinos da nova infantaria. Até à data das eleições prevê-se o treino de 15.000 dos 30.000 novos soldados.

Duas administrações
Nem todas as forças da Renamo já foram acantonadas. Nalgumas províncias continua a haver movimentações das tropas da Renamo. Um exemplo é a província de Tete, onde a Renamo ocupou recentemente a povoação de Malilongue (distrito de Marávia), onde estaria a explorar e a contrabandear pedras preciosas. O caso já foi notificado à CCF (Comissão de Cessar-Fogo) e à CSC (Comissão de Supervisão e Controlo). Disputas de controlo de zonas também teriam lugar nos distritos de Tsangano, Angónia, Macanga e Moatize.

Refugiados
Dos 24.000 refugiados moçambicanos na Suazilândia, cerca de 20.000 já foram repatriados e os restantes voltarão ainda no mês de Maio, informou o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).

O caso dos "Young Pioneers"
Em entrevista com a publicação malawiano "The Monitor", um oficial da Renamo declarou que os Malawi Young Pioneers, organização armada do Partido do Congresso do Kamuzu Banda ajudaram a Renamo durante a guerra em Moçambique. O apoio teria consistido no envio de instrutores treinados em Israel, no treino de alguns homens da Renamo no Malawi e em apoio material. Em reconhecimento desse apoio a Renamo estaria agora a receber os Pioneers nas suas bases.
O governo moçambicano tem acusado a Renamo de albergar nas suas bases de Niassa elementos dos Pioneers, mas a Renamo sempre negou essas acusações. O artigo no "Monitor" cita um oficial dos Pioneers que confirmou a presença de 2150 membros dos Young Pioneers nas bases da Renamo em Niassa. A movimentação dos Pioneers teria começado em Junho de 1993, antes da introdução do multipartidarismo em Malawi.
Há indícios que os Young Pioneers se preparam nas bases da Renamo para desencadear uma guerrilha, caso o Partido do Congresso for derrotado nas eleições de 17 de Maio próximo.

Atentado
O conhecido advogado italiano Umberto Casadei (68 anos, residente em Moçambique desde a Independência) foi alvejado a tiro por um desconhecido no dia 23. Casadei estava a dirigir o seu carro quando o atirador, de motorizada, disparou duas balas que o atingiram no peito. Após quatro dias no Hospital Central de Maputo, Casadei recebeu alta.
É a segunda vez em cerca de três meses que o advogado é alvo de um atentado. Ele está a trabalhar no "Caso Pinto", que implica os empresários moçambicanos Pedro Pinto e Júlio Tandane, acusados de terem defraudado ao Banco Popular de Desenvolvimento (BPD) um montante de quatro biliões de meticais.

25 de Abril
A passagem do 20° aniversário do 25 de Abril foi assinalada em Maputo, entre outras coisas, com uma exposição de artes e por palestras proferidas por Victor Crespo, almirante português que era o alto comissário do seu governo durante o período de transição em Moçambique. Numa das palestras, Crespo assumiu a responsabilidade pela destruição dos arquivos da ex-PIDE em Moçambique.

Nádia
Os estragos feitos pelo ciclone Nádia continuam a dificultar a vida nas províncias nortenhas. Já foi reestabelecida a ligação rodoviária entre o distrito de Nacala-a-Velha e o resto da província.

Contra as minas
Uma campanha recolheu cerca de 35.000 assinaturas contra o fabrico, a venda e a proliferação de minas antipessoais. A campanha, organizada pela ADEMO (Associação dos Deficientes) e pela ADEMIMO (Associação dos Deficientes Militares) e coordenada pela Handicap International, uma ONG francesa, visa pressionar o Governo, a Renamo e as Nações Unidas a neutralizarem o mais rapidamente possível todas as minas antipessoais e a destruirem os seus stocks. Ainda pretende que o Governo assine a convenção das Nações Unidas sobre a utilização de armas clássicas produtoras de efeitos traumáticos excessivos.
Ainda se pretende que as NU criem um fundo de apoio às vítimas das minas que deveria ser sustentado pelos 15 países envolvidos na produção e transacção das minas que actualmente se encontram em Moçambique (entre outros: EUA, ex-União Soviética, África do Sul, Inglaterra e o Brasil).

O número: 2.000.000
É estimado em quase dois milhões o número de minas espalhadas pelo país. A desactivação desses engenhos, cuja localização ninguém conhece com exactidão, será um trabalho de vários anos.

Dólar: oficial (BM): 5740 MT; paralelo: 6800 MT.
 


Fontes: Notícias, Domingo, Savana, RM e o TeleJornal da TVM.


Wim Neeleman


NoTMoC - arquivo

voltar voltar à home page da NoTMoC voltar a Moçambique On-line voltar