A versão da DHD sobre Montepuez
(Maputo) A Associação Direitos Humanos e
Desenvolvimento (DHD) apresentou ontem em Maputo o seu
relatório sobre os acontecimentos na prisão de Montepuez,
província de Cabo Delgado, designadamente aqueles que levaram
à morte de 83 reclusos simpatizantes da Renamo. Uma equipa da
associação regressou recentemente do local.
Artemisa Franco, presidente da DHD, disse que o que sucedeu
em Montepuez foi "muito grave". Segundo ela, primeiro morreram
8 reclusos a 19 de Novembro. Mas a Polícia "não tomou
nenhumas medidas para evitar que a situação se agravasse. Estas
pessoas foram enterradas sem terem sido autopsiadas".
Três dias depois, a 22, "vieram a morrer mais 75 reclusos,
totalizando-se 83 pessoas. Os 75 reclusos tiveram autópsias
mandadas fazer pelo governo, mas essas autópsias continuam no
segredo dos deuses e da justiça".
A DHD diz que no seu inquérito não chegou a apurar nada que
justificasse a ideia de que as mortes foram causadas por magia
negra. "As nossas fontes lá no terreno contam que os reclusos
teriam morrido de fome. Esta versão já tinha sido avançada pelo
"mt" na sua edição de 29 de Novembro, em que dizíamos, citando
fontes locais, que os detidos tinham ficado 9 dias sem comer.
"A PRM em nenhum momento chegou a fornecer comida aos
reclusos. Apenas os que tinham familiares em Montepuez é que
comiam. Os outros presos viviam da boa vontade dos de
Montepuez".
A DHD conta também que "todas as 119 pessoas que estavam
na cadeia não tiveram processos-crime instaurados, pelo que se
desconhece a identidade de muitos. Este é o drama do momento.
Não se sabe quem é que estava na cadeia".
Esta organização de defesa de direitos humanos diz ainda que,
depois das manifestações da Renamo do dia 9 de Novembro, "a
PRM foi detendo pessoas atrás de pessoas. Houve detidos de
Chiúre, Montepuez e Balama. Houve também detidos que
apareceram com sinais de terem sido amarrados e torturados".
Artemisa Franco conta um facto curioso: "quando o incidente do
dia 9 de Novembro se deu, o comandante distrital da PRM não
estava presente em Montepuez. Mas no seu regresso, ele foi abrir
a porta da cela e disse o seguinte: vocês vão ver. Queriam matar-me.
Por isso ficam aqui dentro". Recorde-se que entre os mortos de 9 de Novembro havia agentes
policiais.
Em Montepuez há agora um ambiente de ódio entre os
simpantizantes da Renamo e da Frelimo, acusando-se
mutuamente de terem morto os seus familiares. Sobre as mortes
na cela de Montepuez, a DHD concluíu que "o governo tem
responsabilidades civis e criminais no caso". (Victor Matsinhe)
Uns sancionados, outros não
(Maputo) A detenção de agentes policiais e outros dirigentes de
nível local, supostamente implicados nas mortes da cadeia de
Montepuez, estão a inquietar populares locais de diferentes
camadas sociais. Eles defendem que essas detenções são bodes
expiatórios pois, alegam, "algumas das pessoas que estão a
conduzir as investigações e a instrução dos processos tinham
chegado a Montepuez, vindos de Maputo, mesmo antes das
mortes". Ou seja, quando a morte colectiva se deu "esses
investigadores de Maputo já estavam cá. Hoje parece que vão
ficar impunes. E parece que alguns acabam de ser promovidos",
disse-nos fonte idónea contactada a partir de Maputo.
Colocamos a alegação a Raúl Freia, Superintendente da Polícia
afecto no Ministério do Interior. Ele respondeu-nos que "depois da
ocorrência, o ministério tomou uma medida: investigar e trazer
esclarecimentos. Foram as investigações que determinaram as
detenções. Sobre casos específicos, vamos esperar que as
investigações terminem para se ver o grau de culpabilidade". A
uma outra pergunta, Freia respondeu que muitos agentes policiais
já visitaram Montepuez, a partir de Maputo, consoante as fases de
investigação". Ele escusou-se a fornecer-nos o número desses
agentes. (A.A.)
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