Moçambique on-line


metical de 12 de Dezembro 2000


A versão da DHD sobre Montepuez

(Maputo) A Associação Direitos Humanos e Desenvolvimento (DHD) apresentou ontem em Maputo o seu relatório sobre os acontecimentos na prisão de Montepuez, província de Cabo Delgado, designadamente aqueles que levaram à morte de 83 reclusos simpatizantes da Renamo. Uma equipa da associação regressou recentemente do local.

Artemisa Franco, presidente da DHD, disse que o que sucedeu em Montepuez foi "muito grave". Segundo ela, primeiro morreram 8 reclusos a 19 de Novembro. Mas a Polícia "não tomou nenhumas medidas para evitar que a situação se agravasse. Estas pessoas foram enterradas sem terem sido autopsiadas".

Três dias depois, a 22, "vieram a morrer mais 75 reclusos, totalizando-se 83 pessoas. Os 75 reclusos tiveram autópsias mandadas fazer pelo governo, mas essas autópsias continuam no segredo dos deuses e da justiça".

A DHD diz que no seu inquérito não chegou a apurar nada que justificasse a ideia de que as mortes foram causadas por magia negra. "As nossas fontes lá no terreno contam que os reclusos teriam morrido de fome. Esta versão já tinha sido avançada pelo "mt" na sua edição de 29 de Novembro, em que dizíamos, citando fontes locais, que os detidos tinham ficado 9 dias sem comer.

"A PRM em nenhum momento chegou a fornecer comida aos reclusos. Apenas os que tinham familiares em Montepuez é que comiam. Os outros presos viviam da boa vontade dos de Montepuez".

A DHD conta também que "todas as 119 pessoas que estavam na cadeia não tiveram processos-crime instaurados, pelo que se desconhece a identidade de muitos. Este é o drama do momento. Não se sabe quem é que estava na cadeia".

Esta organização de defesa de direitos humanos diz ainda que, depois das manifestações da Renamo do dia 9 de Novembro, "a PRM foi detendo pessoas atrás de pessoas. Houve detidos de Chiúre, Montepuez e Balama. Houve também detidos que apareceram com sinais de terem sido amarrados e torturados".

Artemisa Franco conta um facto curioso: "quando o incidente do dia 9 de Novembro se deu, o comandante distrital da PRM não estava presente em Montepuez. Mas no seu regresso, ele foi abrir a porta da cela e disse o seguinte: vocês vão ver. Queriam matar-me. Por isso ficam aqui dentro". Recorde-se que entre os mortos de 9 de Novembro havia agentes policiais.

Em Montepuez há agora um ambiente de ódio entre os simpantizantes da Renamo e da Frelimo, acusando-se mutuamente de terem morto os seus familiares. Sobre as mortes na cela de Montepuez, a DHD concluíu que "o governo tem responsabilidades civis e criminais no caso". (Victor Matsinhe)
 



Uns sancionados, outros não

(Maputo) A detenção de agentes policiais e outros dirigentes de nível local, supostamente implicados nas mortes da cadeia de Montepuez, estão a inquietar populares locais de diferentes camadas sociais. Eles defendem que essas detenções são bodes expiatórios pois, alegam, "algumas das pessoas que estão a conduzir as investigações e a instrução dos processos tinham chegado a Montepuez, vindos de Maputo, mesmo antes das mortes". Ou seja, quando a morte colectiva se deu "esses investigadores de Maputo já estavam cá. Hoje parece que vão ficar impunes. E parece que alguns acabam de ser promovidos", disse-nos fonte idónea contactada a partir de Maputo.
A fonte referiu que em Montepuez e em Pemba está-se a "falar muito mal. As pessoas perguntam se é regionalismo, se o sul nos quer dominar aqui no norte".

Colocamos a alegação a Raúl Freia, Superintendente da Polícia afecto no Ministério do Interior. Ele respondeu-nos que "depois da ocorrência, o ministério tomou uma medida: investigar e trazer esclarecimentos. Foram as investigações que determinaram as detenções. Sobre casos específicos, vamos esperar que as investigações terminem para se ver o grau de culpabilidade". A uma outra pergunta, Freia respondeu que muitos agentes policiais já visitaram Montepuez, a partir de Maputo, consoante as fases de investigação". Ele escusou-se a fornecer-nos o número desses agentes. (A.A.)
 


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