Manifestações e repressão policial:
Acontecerem na quinta-feira dia 9, um pouco por todo o país, as manifestações que a Renamo vinha anunciando há meses. Nalguns lugares tiveram pouca adesão e acabaram cedo, enquanto noutros lugares mobilizaram muitas pessoas.
Na cidade de Maputo, a manifestação decorreu de forma ordeira e pacífica, com o acompanhamento da Polícia. Participaram numerosos deputados da bancada da Renamo-UE, que faltaram à sessão do Parlamento. Mas também houve a adesão de algumas dezenas de moçambicanos ex-trabalhadores na RDA que reclamam indemnizações que dizem que o governo lhes deve.
No resto do país, no entanto, a polícia tentou impedir as manifestações, alegando que estas seriam ilegais por a Renamo não ter cumprido os prazos estabelecidos na lei. Nalguns casos conseguiram convencer os manifestantes que - após algumas discussões - se dispersaram; é o caso da cidade de Tete - onde se registaram apenas cinco feridos ligeiros - e de alguns distritos da província de Zambézia, como Quelimane, Mocuba, Alto-Molócuè, Lugela, Guruè e Mocuba.
Na cidade da Beira, onde a adesão esperada era grande, muitas lojas ficaram fechadas e mercados não abriram. Logo nas primeiras horas a população concentrou-se nalguns lugares. No bairro de Munhava, mesmo antes do início da manifestação, a polícia usou gás lacrimogéneo e cães para dispersar a multidão. Foi detido neste bairro o deputado da Renamo, Manuel Pereira, que teria sido algemado e submetido a sevícias antes de ser levado às celas da PIC.
Ainda na Beira a sede do grupo dinamizador do bairro de Nduna foi assaltado por manifestantes que pintaram com fezes as paredes. Nas localidades de Machanga, Nhamatanda, Dondo e Caia a táctica usada pela polícia parece ter sido a mesma e há notícias de dezenas de detidos que foram transportados para a cidade da Beira.
Na cidade de Chimoio os manifestantes que tentaram concentrar-se foram por duas vezes dispersados à cassetada e com jatos de água que a polícia "encomendou" aos bombeiros. A polícia deteve 56 pessoas, entre os quais o deputado da Renamo Albino Faife, que mais tarde foi posto em liberdade condidicional.
Na cidade de Pemba cerca de 300 manifestantes espancaram o director provincial do STAE, tido como responsável pelo facto de a Renamo ter perdido as eleições na província de Cabo Delgado. Mais tarde, quando os manifestantes se dirigiam em direcção ao palácio do Governador, a polícia disparou sobre a multidão. Notícias iniciais falaram de três mortos e seis feridos, mas estes números não foram confirmados.
Em Nampula os manifestantes tentaram impedir a passagem de um comboio de passageiros, colocando troncos na via férrea. Em Angoche a polícia disparou contra manifestantes que do bairro de Ingúri se dirigiam ao centro da cidade. Nas vilas de Mogovolas, Calipo, Iapala, Moma, Nacala-a-Velha, e Ilha de Moçambique houve confrontos com a polícia, que disparou sobre os manifestantes, matando alguns.
A situação mais violenta deu-se no distrito de Montepuez onde há 12 mortes a lamentar - 6 civis, 5 polícias e 1 polícia camerária - e 59 feridos - 54 civis e 5 polícias - alguns dos quais em estado grave. Nesta vila, a segunda maior da província de Cabo Delgado, os manifestantes assaltaram o posto da polícia onde se apoderaram de algumas armas; em seguida ocuparam a cadeia civil e libertaram os que estavam presos. Tomaram reféns o administrador do distrito e o chefe da cadeia.
No distrito costeiro de Quissanga os manifestantes que ocuparam a administração e a residência do administrador foram desalojados por unidades da Polícia de Intervenção Rápida, enviadas da cidade de Pemba, na tarde de ontem.
O balanço a nível nacional na noite do dia 9 era de 22 mortos e 113 feridos. Hoje a situação em todos os distritos voltou à calma (Savana 10/11/00, Rádio Moçambique 9 e 10/11/00, AIM 10/11/10)
PM avisa: Governo vai utilizar todos os meios para manter a ordem
No dia 9, o Primeiro-Ministro, Pascoal Mocumbi, falou a uma Assembleia da República com apenas a bancada da Frelimo, já que toda a oposição estava ausente, para participar nas marchas públicas convocadas pela Renamo-UE. Mocumbi, usando uma linguagem ameaçadora, disse que o Governo vai utilizar "todos os meios ao seu alcance" para manter a ordem e a tranquilidade públicas "perante qualquer tipo de ameaça à estabilidade".
Mocumbi afirmou que as manifestações promovidas pela Renamo-UE são "ilegais", daí que apelou a todos os cidadãos, em geral, e aos deputados, em particular, para não aderirem a estas realizações. O PM falou no final da sessão de perguntas ao Executivo, que durante três dias teve lugar no Parlamento. (Notícias, 10/11/00)
Chissano desculpa polícia e apela à não aderência
À noite da quinta-feira o Presidente da República, Joaquim Chissano, fez uma comunicação à nação, na qual lamentou a morte de inocentes e apelou a toda população para não aderir às manifestações, afirmando que elas visam provocar o caos e o retrocesso do processo de desenvolvimento económico no país.
Chissano disse que as manifestações tinham como objectivo assaltar postos da polícia para se apoderarem de armas, ocupar administrações e cometer ofensas corporais contra dirigentes do Estado ao nível dos administradores. Também teriam sido erguidas barricadas em várias estradas. O Presidente responsabilizou a Renamo pelos 22 mortos e 113 feridos.
Em Montepuez os manifestantes fizeram refém o administrador adjunto. Chissano sugeriu que - neste caso - estariam envolvidos antigos guerrilheiros da Renamo. Outros lugares onde há vítimas a lamentar são Mogovolas (1 morto), Moma (2 mortos), Nampula (1 morto), Ilha de Moçambique (1 morto), Balama (3 mortos) e Caia (1 morto). Em todos os casos Chissano culpou a Renamo e disse que a polícia agiu "em sua defesa". Na vila de Quissanga manifestantes chegaram a ocupar a administração e a residência do administrador.
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