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n° 76 | 7 de Abril 1996 | Maputo |
1. O 7 DE ABRIL NA IMPRENSA Poucos dados concretos foram dados pela imprensa este ano sobre a evolução da situação da mulher moçambicana. (Savana 05/04, Notícias 06 e 08/04, Domingo 07/04). Falou-se no geral, a partir do balanço do Chefe de Estado, e da Secretária Geral da OMM, Teresa Tembo, sobre os avanços conquistados desde a Independência: há mulheres profissionais em todas as áreas da economia e do aparelho de Estado, mulheres ministros (1), vice-ministros (5), várias directoras de empresas, muitas empresárias por conta própria. O sector informal da economia, que por razões óbvias é difícil de estudar mas cujo poder económico se calcula próximo do volume do sector formal, tem uma forte representação de mulheres comerciantes: as 'mamanas' do bazar, do dumba-nengue, do tráfico fronteiriço. Elas próprias, queixam-se da acção criminosa dos 'ninjas' e das veleidades da polícia e das alfândegas, que volta e meia as deixam sem os produtos para venderem. Não se falou uma palavra sobre as centenas de prostitutas que embelezam as esquinas mais concorridas das cidades. Lurdes Mutola, pelo contrário, esteve presente em todos os inventários sobre as conquistas da mulher. Houve sim uma mudança interessante nas tradicionais cerimónias comemorativas do dia: Na deposição de flores no Monumento aos Heróis Moçambicanos, quem colocou a primeira coroa foi Teresa Tembo, Secretária Geral da OMM, em vez de ser o Presidente da República, como habitualmente acontecia. Entre as mulheres entrevistadas pelo Domingo estava Cândida Bila, actriz de teatro, encenadora e estudante de Agronomia; Bela Rocha, pintora; Elvira Viegas, cantora; Lina Magaia, escritora e deputada; Helena Jossai, editora e estudante de Direito; Pérola Jaime, bailarina da Companhia Nacional de Canto e Dança; Glória Muianga, apresentadora e realizadora de programas da TVM; Celestina da Conceição, "Miss Moçambique" e estudante de Medicina. Todas elas foram unânimes em sentir que entre os homens moçambicanos há ainda muita resistência e desconfiança em relação à capacidade da mulher. "Não sei, sinceramente, o que impede o Presidente da República de nomear mulheres-governadores provinciais" comenta Lina Magaia. "Por mais que se tenha o mesmo nível de escolaridade que o homem (e até mais competência), se se for a nomear alguém para um cargo de chefia, escolhem logo o homem" alega Glória Muianga. As mulheres precisam de ajudar a educar o homem, é a conclusão geral. "Houve tempos em que ele nem sequer queria ouvi-la, e considero que o que contribuiu para mudar um bocado a sua mentalidade foi o próprio ritmo da vida em si" é a reflexão de Celestina da Conceição. Talvez um dos 'toques' mais interessantes das comemorações do 7 de Abril o encontramos na publicidade da MABOR-ORGULHO NACIONAL, que tão explicitamente apresenta o 'ideal' da mulher urbana:
"A MABOR saúda a Mulher Moçambicana neste seu belo Dia com as maiores felicidades: Ela levanta-se cedo, acende o lume, acorda os filhos, cuida da casa, pega no carro [com pneus Mabor, I presume?], leva-os à escola, volta à casa, vai para o emprego com o marido, chega à casa, serve o almoço, volta ao serviço, regressa à casa, olha os cadernos dos filhos, lava a roupa, passa a ferro, serve o jantar, arruma a loiça, conversa com o marido, deita-se tarde e, no dia seguinte, volta a levantar-se cedo, ao ritmo de sempre do seu dia-a-dia, dando o melhor de si pela felicidade da família. Para Ela, a nossa Homenagem."
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